SAARA, capital da economia criativa do Rio de Janeiro
Depoimento de Pedro Rivera,
O Studio-X, junto com o Centro Carioca de Design, ocupa desde 2011 um imóvel que foi reformado, lá pelos idos dos anos 90, dentro do Programa Monumenta, com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o apoio da Unesco. Depois da reforma, o imóvel ficou desocupado, até que, entre 2010 e 2011, foi dado um pontapé inicial para revitalização da Praça Tiradentes: retiraram as grades que limitavam o ir e vir de pedestres e alteraram os pontos de ônibus.
Para trazer mais gente e ocupar esse passeio público atuamos com intervenções temporárias na Praça - nos projetos 'joga na vaga', 'abraçasso' e, mais recentemente, no Tiradentes Cultural, que rola todo primeiro sábado do mês, uma iniciativa que reúne os espaços culturais Helio Oticica, Escola Villa Lobos, Gentil Carioca, entre outros. Que precisa acontecer mais vezes, com outras iniciativas, em outros sábados: assim temos mais gente na rua, mais protegidos, com lugar onde comer, ver shows. Porque não basta ter entretenimento noturno e ser monofuncional. Como a Lapa é, fica deserto durante o dia.
É importante notar que, ainda hoje, grande parte dos imóveis da Praça é pouco utilizada e isso continua sendo um entrave: quase não temos circulação de gente após as 19 horas ou aos finais de semana. Poucos edifícios estão efetivamente ocupados e muitos são de propriedade do governo, mas também existe uma série de particulares vazios. Resultado de um problema estrutural da cidade, que é a proibição, por lei de zoneamento, de habitação no centro. Algo que não existia antigamente nas ruas da Saara. Os comerciantes e suas famílias moravam ali mesmo, no segundo andar ou nos fundos das lojas.
Para nossa atividade fim, nossa localização é perfeita. Primeiro, porque é central. E, para o nosso dia a dia, SAARA tem de tudo! Seja para quem trabalha com exposições, figurinos, cenografia, artesanato... tudo passa por ali. Mesmo na urgência, consigo achar materiais bem específicos, entrar numa loja física que só vende artigos de borracha. Em Londres, onde morei um tempo, esse tipo de comércio no centro era impossível, por causa do preço dos imóveis. Ou achava-se tudo na periferia ou online.
A região da SAARA preserva isso, como a 25 de Março em SP também se mantém. É um valor para a cidade que não pode ser desperdiçado e deve haver políticas do poder público para fomentá-lo. O Saara colabora positivamente, é um capital da economia criativa do Rio de Janeiro. Não pode perder essa característica.
Pedro Rivera, é arquiteto e desde 2011 é diretor do Studio-X Rio, que faz parte de uma rede global de laboratórios para pensar o futuro das cidades da GSAPP Columbia University. Foi professor do CAU PUC-Rio entre 2009 e 2012 e da Universidade Estácio de Sá entre 2004 e 2008.