Neto de empreendedor defende a tradição do angu no Largo da Prainha
Depoimento de Rigo Duarte,
“Juntamente com o pão de queijo e o acarajé, o angu é um prato verdadeiramente brasileiro e faz parte da história da gastronomia do Rio de Janeiro. Tanto que o Angu do Gomes foi reconhecido como Patrimônio Cultural Carioca.
O português Manoel Gomes criou o prato ao ver uma baiana vendendo o angu em duas latas – de um lado tinha a polenta, do outro pedaços de carne de porco. Só que modificou a receita e adotou o ensopado de miúdos de boi, como servido em Portugal. No início da década de 50, a carrocinha do Manoel ficava na Praça XV e fazia sucesso com quem trabalhava no centro ou ia pegar as barcas para Niterói. Em determinado momento, Manoel não quis mais continuar a fazer o angu, passou o negócio ao filho, João Gomes, e perguntou ao meu bisavô, José Bernardo, que era dono de um bar na Praça XV, se queria entrar como sócio. Como o José já tinha o bar para tocar, indicou Basílio, seu filho, para trabalhar na barraca.
Quando João e Basílio começaram a vender o angu, perguntavam “cadê o Gomes?” Então, como forma de homenagem e para lembrar que a receita era a do português, criaram a logomarca “Angu do Gomes”. Isso em 1955, numa época em que as barraquinhas de alumínio não tinham nada escrito. O negócio cresceu, abriram outras carroças e depois houve a necessidade de alugar uma cozinha para servir como ponto de abastecimento, perto da Pedra do Sal. Chegaram a ter 40 carrocinhas espalhadas pela cidade: na Penha, Tijuca, Niterói, Copacabana, Quinta da Boa Vista. Fecharam o negócio no início dos anos 90, para se dedicarem à família e outras prioridades.
Reabri o Angu do Gomes em 2008 com meu sócio, primeiro como carrocinha, mas desisti por questão de higiene. O processo de produção do angu precisa de muita água, não é simples fazer na rua. E num restaurante poderia servir outras receitas e petiscos, fazer um bar bem boêmio. O preço do angu não é como era antigamente. Continua sendo popular, mas não consigo oferecer um preço melhor, como de uma carrocinha, pela quantidade de impostos. Trabalho certo, sigo as tarifas de impostos, com sistema, nota fiscal. Temos 23 funcionários no momento. Infelizmente, muitos bares funcionam de forma ilegal e a fiscalização fecha os olhos.
A revitalização trouxe mais claridade para o Porto, virou cartão-postal. Hoje em dia, o turista gasta de 1 a 2 dias no centro da cidade – coisa que não existia anteriormente. Temos vida noturna, vida diurna com os museus e happy-hour, é muita coisa acontecendo. Temo pelo crescimento que está sendo um pouco desordenado e que aqui se estrague, sem fiscalização, que vire um lugar perigoso, tomado por ambulantes que não pagam imposto. Todo comércio daqui precisa de funcionário, mas está muito difícil. Preferem trabalhar dois dias da semana vendendo cerveja na rua do que com carteira assinada. Existe muita cobrança, mas não vejo muito respeito com o comércio.
Indico a quem visita a região da Praça Mauá subir no Mosteiro de São Bento, andar de VLT e, em breve, ir no AquaRio. O Boulevard Olímpico ficou lindo e vale o passeio. Para as crianças, tem um calçadão enorme para prática de skate e patins."
Rigo Duarte Ribeiro, 34 anos, reabriu o “Angu do Gomes” em 2008 com apoio do avô, Basílio Pinto Moreira, 87 anos, que na década de 70 chegou a vender 20 mil pratos de angu por dia em carrocinhas espalhadas pela cidade. O restaurante fica na R. Sacadura Cabral, 75, no Largo da Prainha, ao lado da Praça Mauá.