O bairro da Glória deve seu nome à Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro e ocupa um território disputado por franceses, portugueses e povos indígenas durante as batalhas de reconquista do século XVI. Segundo relatos da expedição francesa, existia no sopé do atual Outeiro uma aldeia tupinambá que se chamava Kariók ou Karióg ("casa de carijó") – denominação que muito provavelmente deu origem ao atual gentílico dos habitantes do Rio, "carioca”.
O povoamento do bairro ocorreu a partir da construção da igreja, no século XVIII. Com a chegada da família real ao Brasil, em 1808, o templo foi escolhido para realização de batismos de membros da realeza. A proximidade com a sede do Governo, no final do século XIX, deu à área o status de “Saint-Germain-des-Prés carioca", com arquitetura e urbanismo claramente inspirados na Cidade Luz, inclusive um jardim afrancesado, a Praça Paris. Também nessa época passou a abrigar hotéis luxuosos que serviam de residência a deputados e senadores em exercício na então capital federal. Com a transferência do poder para Brasília, foi pouco a pouco perdendo sua importância, mas não o seu charme, tão bem descrito em um dos mais importantes romances brasileiros, a obra “Dom Casmurro” de Machado de Assis.
Crédito da imagem: BNDigital
Chamado de Palácio do Catete ou das Águias, o prédio foi erguido entre 1858 e 67, em estilo eclético do arquiteto alemão Gustav Waehneldt, para ser a residência do Barão de Nova Friburgo. Residência mais suntuosa do país na época, recebeu uma decoração com símbolos republicanos e cinco águias de bronze esculpidas por Rodolfo Bernadelli e sediou o poder republicano por quase 64 anos, durante os quais 18 presidentes despacharam do Catete. Converteu-se em Museu da República após a transferência da capital federal para Brasília e reúne registros da história política do país, além de guardar um triste capítulo: o suicídio do presidente Getúlio Vargas, em 1954.
Crédito da imagem: Fernando Frazão/Agência Brasil
A arquitetura do antigo Distrito Policial do Catete, de 1906, foi pensada para contribuir para a modernização e melhoria da imagem da força policial do Rio de Janeiro, então Distrito Federal. O aspecto maciço do térreo e as pequenas vigas cilíndricas com seteiras aludem à arquitetura militar e caracterizam o edifício onde está abrigada a delegacia de polícia que atende o bairro do Catete e adjacências.
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O Templo da Humanidade, sede da Igreja Positivista do Brasil, foi o primeiro templo positivista erguido no mundo para o culto da Religião da Humanidade. Conserva acervos desde o ano da fundação da Igreja, em 1881, com relevância histórica no que tange o período de transição do Império para a República Velha, quando a filosofia de August Comte influenciou a adoção do lema Ordem e Progresso em símbolos nacionais.
Crédito da Imagem: Blog Museu Benjamin Constant
Antes do Cristo Redentor, era o Outeiro da Glória que ocupava o posto de cartão-postal da cidade. Sua localização, num ponto pitoresco da então cidade colonial e capital do Brasil, fez com que essa construção do século XVIII fosse alvo de inúmeras representações artísticas, tendo sido retratada tanto por brasileiros quanto estrangeiros que estiveram no Rio durante o século XIX. Embora o cenário ao redor tenha mudado significativamente, o adro e a fachada da igreja continuam intocados como representados nas antigas pinturas.
Crédito da imagem: Fernando Frazão/Agência Brasil
O aterro onde hoje está localizado o Parque do Flamengo foi criado a partir da demolição de morros que ficavam localizados na região central da cidade - os do Castelo, do Querosene e de Santo Antônio. Permaneceu um bom tempo vazio até a urbanização porque haviam divergências se o local deveria ser um novo bairro ou apenas pistas para o tráfego. O papel da arquiteta-paisagista Lota de Macedo Soares foi fundamental para a concepção do projeto, o primeiro parque de lazer ativo do Brasil, inspirado em parques urbanos como o Central Park.
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Inaugurada nos anos 70 para servir de atracadouro público, sofreu ao longo do tempo alterações que a descaracterizaram, desviando-a de seu objetivo inicial. A revitalização da área quase foi interrompida pelo colapso da empresa de Eike Batista que detinha sua concessão, até que, em 2014, o grupo BR Marinas assumiu a obra. Hoje a Marina tem 415 vagas para barcos na água e 240 vagas secas e, além de oferecer serviços de turismo náutico, recebe eventos, mantendo um parque de acesso público, com área verde, ciclovias, mirante e deque.
Crédito da imagem: Divulgação/Riotur
A escultura do padroeiro do Rio de Janeiro traz em seu pedestal um relevo sobre a “Aparição de São Sebastião no combate de Canoas” - lenda em torno da intercessão do santo na batalha de reconquista e expulsão dos franceses. A obra do escultor Dante Crocce foi inaugurada em 1965 como parte das comemorações pelo quarto centenário da cidade e apresenta constantes sinais de vandalismo, tendo perdido as flechas diversas vezes.
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Marcado por um busto gigante de Getúlio Vargas, fica no subsolo da praça ao lado do Hotel Glória, onde uma exposição permanente conta a trajetória do ex-presidente. Foi inaugurado em 2004, no cinquentenário da morte de Getúlio, mas seu projeto, assinado pelo arquiteto Henock de Almeida, existia desde 1984, quando um concurso para criação do memorial foi realizado pelo então governador do Estado, Leonel Brizola.
Crédito da imagem: Dornicke/WikiCommons
O empreendimento erguido para receber hóspedes na Copa do Mundo de 1950 foi inaugurado sem os quatro últimos andares, concluídos após o campeonato. Durante os anos em que o Palácio do Catete foi sede do poder executivo, dividiu com o Hotel Glória os políticos e personalidades que vinham a então capital federal se hospedar ou residir.
Crédito da Imagem: Site Galeria da Arquitetura
"Eu andava perambulando/ sem ter nada pra comer/ Fui pedir às almas santas/ para vir me socorrer" Com seu canto grave e vigoroso, a neta de escravos Clementina de Jesus cravou a presença da África na música popular brasileira. Para lançar seu primeiro disco como cantora profissional, aos 65 anos de idade, um encontro foi decisivo na carreira da ex-empregada doméstica. Foi na Taberna da Glória, aos pés do outeiro que leva o nome da padroeira, que o poeta e produtor cultural Hermínio Bello de Carvalho viu pela primeira vez Quelé, como era conhecida, cantando jongos, lundus e outras canções primitivas impregnadas de negritude.
A Glória foi palco de encontros para amantes da época da monarquia – tempo em que cortesãs eram saudadas como símbolos de virilidade até se tornarem “pontos fracos” dos governantes. Ao que consta, uma passagem secreta nos fundos da igreja da Glória foi usada por Dom Pedro I para encontrar uma de suas amantes, a baronesa de Sorocaba, irmã da marquesa de Santos. Suspeita-se que o monarca descia através de uma escada em espiral que dava no quintal de uma casa vizinha e, dali, pegava a trilha de mata até o solar onde morava a baronesa.
Uma placa comemorativa no Hotel Novo Mundo lembra um grande feito de um dos seus hóspedes mais ilustres e assíduos: o jogador de futebol Pelé. Foi ali que o “rei do futebol” dormiu na noite em que marcou seu milésimo gol, contra o Vasco, no Maracanã, em 19 de novembro de 1969. A placa de bronze com a caricatura do jogador – de coroa e tudo! – ainda hoje está exposta na recepção.
"Eu pensava na transposição de uma cena jamaicana para uma cena brasileira a mais similar possível nos aspectos físico, urbano e cultural. Emblemática do desejo de autonomia e originalidade das comunidades alternativas, No Woman, No Cry retratava o convívio diário de rastafaris no 'government yard' (área governamental) em Trenchtown, e a perseguição policial, provavelmente ligada à questão da droga (maconha), que eles sofriam. Esta situação eu quis transportar para o parque do Aterro, no Rio de Janeiro, também um parque público, onde localizei policiais em vigília e hippies em rodinhas, tocando violão e puxando fumo, como eu costumava vê-los de noite na cidade. Coincidindo com o momento em que a abertura política estava começando, Não Chore Mais acabou por se referir a todo um período de repressão no Brasil." Gilberto Gil, sobre a versão que escreveu para "No, Woman, No Cry".
O caso de amor entre a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares e a poetisa americana Elizabeth Bishop deu-se em meio ao que projeto de urbanização do Aterro do Flamengo. Lota foi convidada por Carlos Lacerda para trabalhar na realização e propôs a modificação do projeto de duplicação das pistas ao longo da Praia do Flamengo de maneira a fazer um aterro muito maior, no que veio a se tornar o Parque do Flamengo.
Localizado na Rua Benjamin Constant, a companhia de dança da coreógrafa carioca ocupa três casarões, um antigo sobrado que já foi residência do pintor Victor Meirelles. O local foi restaurado e preserva a fachada típica do segundo reinado. Na porta, uma placa faz referência ao artista e alusão ao histórico do espaço, cuja construção data de 1893. O espaço oferece aulas de dança e conta com salas de ensaios, aula, cenotécnica, figurinos, além de lanchonete, vestiários e copa.
Rua Benjamin Constant 30
Tel: (21) 3806-0660
https://www.cmdc.art.br/
Crédito da imagem: Site CMDC
Aos domingos, a ampla avenida que liga a Glória à Lapa é tomada por barracas que vendem desde produtos in natura e orgânicos a queijos, doces e compotas de fabricação caseira. Parte da feira abriga brechós e vendedores inusitados como Ricardo Batista de Oliveira, o 'Rei da Merda', que há mais de 20 anos vende esterco de boi ali. Outras feirinhas do bairro são montadas às quintas, na Rua Conde Lages, e aos sábados, na Praça Luiz de Camões, ao lado do Memorial Getúlio Vargas.
Aos domingos, a partir das 6h, na Av. Augusto Severo
Crédito da imagem: Facebook Feira Popular da Glória
Na ladeira que divide a Glória do Catete, esse pequeno bar manteve a estrutura de um armazém de secos e molhados e vende, durante o dia, itens de mercearia, como fósforos, papel higiênico e cachaça – seu produto principal. A parede é repleta de garrafas e a origem dos rótulos vai de Minas Gerais à Paraíba – estado de origem do proprietário, Seu Zé. Atenção que lá não aceita nenhum tipo de cartão ou cheque.
Rua Barão de Guaratiba, 49
Tel.: (21) 2558-6583
Aberto de segunda a sábado, das 10h à meia-noite. Domingo, do meio-dia às 17h.
Crédito da imagem: Facebook Bar do Zé