Ícone da era industrial do Rio de Janeiro, Bangu muitas vezes só é associado às altas temperaturas registradas e ao complexo penitenciário vizinho. A história desse subúrbio bem carioca revela que foi pioneiro do futebol e de uma produção têxtil de ponta. De acordo com registros históricos, terras desmembradas da paróquia de Campo Grande deram origem à Fazenda Bangu, que tinha sua produção baseada no açúcar, álcool, cachaça e rapadura em meados do século XVII. Inicialmente interligadas até Santa Cruz pelo Caminho dos Jesuítas, depois Estrada Real, essas propriedades rurais prosperaram definitivamente com a construção da Estrada de Ferro D. Pedro II, já em meados do século XIX. Em 1889, último ano do Império, a venda do terreno para a Companhia Progresso Industrial do Brasil reconfigurou rapidamente o ambiente rural para um bairro de configuração industrial. A partir de então, tudo passou a girar em torno da Fábrica de Tecidos Bangu: a Vila Operária, a Igreja, o Atlético Clube, a Estação de Trem e até agremiações carnavalescas.
A indústria foi tão fundamental para Bangu quanto os britânicos que a fundaram foram precursores para o futebol brasileiro – alguns pesquisadores creditam ao funcionário da fábrica Thomas Donohoe a introdução da modalidade esportiva no Brasil, em 1893. Décadas depois, na época em que foi presidida por Guilherme da Silveira Jr, o Silveirinha, a fábrica despontou como grande patrocinadora da moda, graças às articulações do empresário pela cultura, desenvolvimento social e político local. Com o declínio da atividade têxtil e a venda da fábrica, o shopping que ocupou seu lugar continuou a atuar como integrador dessa comunidade da Zona Oeste.
Imagem: João C. Horta
Inaugurada em 1893, a Fábrica de Tecidos Bangu foi uma das maiores exportadoras de tecidos do Brasil e responsável por grande parte da urbanização do bairro: desde a estação ferroviária até a construção de casas, vilas e ruas. Tombado em 2000, o edifício histórico abriga desde 2007 o shopping e houve uma revitalização do bairro, degradado com a decadência e posterior encerramento das atividades da fábrica.
Imagem: site Aliansce
Fundado em 1907, foi sede da antiga Sociedade Musical Progresso de Bangu e esteve abrigado em edifício construído pela fábrica na Rua Ferrer n° 127 - atual Rua Cônego de Vasconcelos. Em 1929, uma briga judicial devolveu o imóvel à fábrica, e o Casino acabou fixando sua sede na Rua Fonseca, n° 534, onde permanece até os dias atuais.
Imagem: Facebook Casino Bangu
Consta que, na antiga Fazenda Bangu, já existia uma pequena ermida dedicada ao culto dos mártires São Sebastião e Santa Cecília. A construção da nova capela, em 1908, atendeu também aos interesses da Fábrica Bangu, que já mantinha várias atividades sociais e esportivas e ainda nenhuma de cunho religioso.
Imagem: Site do Inepac
Imóvel na Praça da Fé nº 21 onde residiu a família do empresário Guilherme da Silveira (1882-1974), conhecido como Silveirinha. Um movimento de moradores tenta o tombamento da casa como patrimônio histórico e cultural do Estado do Rio para criação de um centro de Cultura e Memória de Bangu - Casa do Silveirinha (CMB).
Imagem: Google Street View
Fundado em 1904, o clube foi campeão do primeiro campeonato disputado por equipes profissionais de futebol em 1933, campeão Carioca de 1966 e vice-campeão Brasileiro em 1985. Mas sua história começa bem antes, no final do século XIX, quando ingleses que trabalhavam na Fábrica Bangu despertaram o interesse dos locais com a narrativa sobre uma modalidade desportiva até então desconhecida. Com bolas trazidas da Inglaterra junto com o equipamento industrial, os jogadores que correram pelo campo provisório montado pela fábrica e depois fundaram o clube são considerados precursores da história do futebol no Brasil.
Imagem: Blog Literatura e Rio de Janeiro
Popularmente chamado de Museu de Bangu, este centro cultural recebeu o nome de um ilustre escritor banguense, o autor de “Meu Pé de Laranja Lima” José Mauro de Vasconcelos. Sua denominação também faz homenagem à sociedade congênere que funcionou no bairro entre 1907 e 1939, inicialmente com o nome de Grêmio Philomático (1907/1925) e depois de Grêmio Literário Rui Barbosa (1925/1939).
Imagem: Museu de Bangu/Divulgação
Com o final das atividades da fábrica, Bangu passou a ter uma vocação comercial forte: seja no shopping ou no calçadão, atrai até quem vive em outros bairros. O comércio popular de Bangu recorre a sistema de climatização, escadas rolantes e uma cobertura para amenizar o calor da rua.
Imagem: Luiz Fernando Reis/Flickr
Uma das explicações diz que Bangu é corruptela da palavra indígena “útang-û” e significa “barreira negra” em alusão aos morros que circundam este vale na zona oeste. Outra vertente associa o nome à palavra africana “bangüê”, utilizada pelos escravos para se referir ao local onde se guardava o bagaço da cana-de-açúcar que, após moída, alimentava o gado. O termo ficou consagrado ainda como denominação de uma espécie de padiola feita de tiras de couro ou fibras trançadas, usada para transportar cana-de-açúcar e outros materiais de forma improvisada. Daí nasceu a expressão “fazer à bangu”, ou seja, sem cuidado, de qualquer jeito.
No estacionamento do Shopping Bangu, uma estátua presta homenagem ao escocês Thomas Donohoe, figura que, na versão banguense, foi quem introduziu a ‘mania pela redonda’ no Brasil, meses antes do paulista Charles Miller organizar uma partida de futebol. Ainda que haja controvérsias sobre a ‘paternidade’ do jogo, o fato do britânico ter tomado gosto pelo esporte em sua terra natal foi decisivo para motivá-lo a trazer as bolas e organizar as partidas aos domingos, junto com outros empregados da fábrica.
Essa impressionante formação rochosa se destaca entre as montanhas da zona oeste, uma paisagem que tem se popularizado desde a abertura da Trilha Transcarioca. A grande rocha de granito parece desafiar a gravidade se “equilibrando” verticalmente sobre o solo e pode ser acessada em uma caminhada de cerca de 2 horas no trecho da trilha conhecido como Piraquara x Estrada dos Teixeiras, com acesso dentro do Parque Estadual da Pedra Branca.
“Numa roda de amigos eu te conheci/E o seu rostinho lindo jamais eu esqueci/ E a nossa amizade foi virando uma paixão/Te colocando no meu coração/Porque te amo/E quero você sempre aqui/A vida dá voltas e o destino trouxe/Você para mim”. Foi depois de um Carnaval que o ilustre morador de Bangu MC Marcinho compôs da letra de “Por Que Te Amo”, canção que, em 1996, fez sucesso ao lado de MC Cacau e marcou o estouro da dupla. O romance do casal durou mais de 10 anos e teve idas e vindas – Marcinho declara que outro funk melody muito conhecido dele, “Princesa”, foi composto para outra ex-namorada.
Inaugurada em 1996 como Lona Cultural de Bangu, passou por reformas em 2000 e 2015 - nesta última, teve seu nome alterado em homenagem ao músico instrumentista e antigo morador ilustre do bairro. O espaço oferece oficinas de artes cênicas, danças, música, esportes, turismo, hotelaria, desenho, além de área externa com 300 lugares para espetáculos.
Praça 1º de Maio S/Nº
Tel: (21) 3463-4945
Funcionamento: Segunda a sexta: 10h às 17h; sábado e domingo: quando houver espetáculo a partir das 14h.
https://www.facebook.com/areninhahermetopascoal/
Imagem: Facebook Areninha Hermeto Pascoal
Fundada em 1937, é considerada a quarta escola de samba mais antiga do Brasil e foi a primeira da região da Zona Oeste da cidade. Participou do Grupo Especial do carnaval carioca em 1958, 1959, 1960 e 1963, e foi bicampeã da Série A, tendo conquistado os títulos de 1957 e 1962. Em 2017, foi a grande vencedora do carnaval carioca da Série B e, com isso, Bangu vai abrir o desfile de 2018 na Sapucaí na Série A, grupo de acesso ao Grupo Especial.
Rua Santa Cecília, 570
Tel: (21)3269-1130
https://www.facebook.com/UnidosDeBanguoficial
Imagem: Facebook Unidos de Bangu
Na região de Bangu, a verde e branco é a principal agremiação de samba. Campeã seis vezes do carnaval carioca, a escola reinventou o conceito de bateria com Mestre André e sua paradinha. Fundada em 1955, conquistou títulos do grupo principal do carnaval carioca a partir do final da década de 70, quando era patrocinada pelo bicheiro Castro de Andrade. Em 2017, em meio a uma polêmica envolvendo notas de jurados, a escola acaba dividindo o título com a Portela.
Av. Brasil, 31146 - Padre Miguel
Tel: (21) 3291-8700
http://www.mocidadeindependente.com.br/
Imagem: Facebook Mocidade Independente