O Museu Histórico Nacional está presente nos roteiros do projeto desde 2015, quando realizamos o Rolé pelos 450 anos da cidade, saindo da Ladeira da Misericórdia, último vestígio do Morro do Castelo. Depois, foi a vez de explorarmos os jardins do museu no roteiro pela Orla Conde, a novidade de 2016, e no caminho que contou a história da antiga Rua Direita, agora Primeiro de Março, em 2018. Só que o mais importante museu dedicado à história do Brasil merece um Rolé Visita exclusivo pra si! A começar pelas inúmeras camadas que a arquitetura do edifício e seu espaço ao redor revelam.
No ano de 1567, o Governador-Geral Mem de Sá decidiu transferir a "Vila Velha" que ficava no Morro Cara de Cão para o Morro do Castelo. A escolha deste ponto como local dos assentamentos definitivos do povoado foi feita pensando na defesa do território, já que sua posição era estratégica, com amplas vistas da entrada até recantos mais distantes da Baía de Guanabara. Nos primeiros anos de ocupação, o Castelo foi fortificado para resistir a qualquer tentativa de revide por parte dos franceses e seus aliados, os tupinambás. É neste contexto que identificamos a ocupação da pequena península junto ao Morro do Castelo, posteriormente chamada de Ponta do Calabouço. Ali foi construída, ao longo dos séculos, uma série de edificações que deram origem ao conjunto que hoje abriga o Museu Histórico Nacional.
Por sua localização estratégica para defesa da Baía e da própria cidade, a região foi uma área militar até o Arsenal de Guerra ser transferido para a Ponta do Caju, em 1908. Em 1922, o complexo foi remodelado em estilo neocolonial para integrar as comemorações do Centenário da Independência do Brasil já com galerias do MHN, criado naquele mesmo ano pelo presidente Epitácio Pessoa.
Crédito da Imagem: Augusto Malta/Acervo MHN
Atualmente, o Museu Histórico Nacional ocupa todo o complexo arquitetônico da Ponta do Calabouço e tornou-se o mais importante museu de história do país, reunindo um acervo com cerca de 258 mil itens, entre objetos, documentos e livros. Da Fortaleza de Santiago (1603) e da Prisão do Calabouço (1693), restam apenas as fundações. Permaneceram até hoje a Casa do Trem (1762), restaurada ao seu aspecto colonial na década de 1990, o prédio do Arsenal de Guerra (1764) e seu imponente Pátio da Minerva e o Pavilhão da Exposição de 1922, atual Biblioteca, formando um dos mais significativos conjuntos arquitetônicos da cidade, com uma área de 20.000m² entre as ruas de Santa Luzia e a Av. Alfredo Agache.
Crédito da Imagem: Thiago Diniz/Rolé Carioca
A área onde se encontra o museu era, primitivamente, uma ponta de terra que avançava sobre as águas da baía de Guanabara, entre as praias de Piaçaba e de Santa Luzia. Por ter sido considerada estratégica para a defesa da cidade, sua ocupação foi iniciada em 1567, com a instalação de uma bateria, depois ampliada numa fortaleza, em 1603. A região passou a ser conhecida pelo nome Ponta do Calabouço a partir de 1693 quando o Forte veio servir também de prisão para castigar escravos, por ordem do Vice-Rei D. Luis de Vasconcelos em comprimento a duas cartas régias de março de 1688.
Crédito da Imagem: Thiago Diniz/Rolé Carioca
A estrutura mais primitiva do local remonta a uma bateria, erguida por forças portuguesas em 1567. Tratava-se de uma defesa do primitivo ancoradouro da cidade, transferida naquele ano para o alto do morro do Descanso (depois Castelo), e que se inseria no conjunto de obras defensivas iniciadas pelo governador e capitão-general da capitania do Rio de Janeiro, Mem de Sá (1567-68). Aparece identificada no mapa de Jacques de Vau de Claye (1579) como "le fort de la [ilegível]", artilhado com duas peças.
Crédito da Imagem: Thiago Diniz/Rolé Carioca
A Fortaleza foi uma estrutura militar complementar à Bateria (ou Batalha) de Santa Luzia. A construção é atribuída ao governador Martim de Sá (1602-1608), que fez levantar um sistema defensivo na base do morro do Castelo para a defesa da praia de Santa Luzia (1603), cruzando fogos com o Forte de Villegaignon. Durante o governo de Duarte Correia Vasques (1645-48), houve a construção de uma cortina ligando-o ao Forte de São Sebastião, no alto do morro do Castelo. Foi reconstruído pelo governador Sebastião de Castro Caldas (1695-97) e, quando da invasão do corsário francês René Duguay-Trouin (1711), estava artilhado com uma peça.
Crédito da Imagem: Thiago Diniz/Rolé Carioca
A criação do calabouço partiu do cumprimento do alvará régio de 16 de novembro de 1693, que determinava a construção de um calabouço, ou uma casa pública para castigo de escravos. O alvará proibia que os senhores de escravos usassem instrumentos de ferro nos castigos e que condenassem os escravos a cárcere privado. Juntamente com o calabouço foi criado o cargo de executor do açoite, e para tal, o pagamento devido pelos senhores foi estabelecido através do "direito da pataca". O carrasco receberia uma pataca, equivalente a 320 réis à época, a cada cem chibatadas. A partir da Constituição de 1824, adotou-se um modelo de prisão baseado em preceitos da medicina social do século XIX, quando teses acadêmicas e pareceres médicos passaram a recomendar que os reclusos deviam se empregar em trabalhos úteis como estratégia de recuperação.
Crédito da Imagem: Thiago Diniz/Rolé Carioca
As casas do trem eram edificações destinadas à guarda de armamentos (o trem da artilharia) dos quartéis e fortalezas. O Rio de Janeiro da primeira metade do século XVIII já contaria com uma, de acordo com planta de 1750 que assinalava uma junto ao Forte de Santiago. Porém, os estudiosos consagram a data de 1762 como da construção da Casa do Trem, por ordem do governador Gomes Freire de Andrade, o Conde de Bobadela. Quando o Rio se transforma em sede do vice‐reino do Brasil, em 1764, foi construído, entre a Casa do Trem e o Forte de Santiago, um conjunto de edificações em "U", formando um pátio retangular com arcada de sete vãos, destinado ao reparo de armas e fabricação munições, o Arsenal de Guerra. Suas fundições não se restringiram ao material bélico e também produziram as peças de bronze dos chafarizes da cidade.
Crédito da Imagem: Thiago Diniz/Rolé Carioca
Em 1792 que Dona Maria I, Rainha de Portugal, assinou os estatutos aprovando a criação da Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho ─ começou aí o ensino de disciplinas que seriam a base da engenharia no Brasil. Numa época em que poucos países, além da França, possuíam escolas para a formação regular de engenheiros, a criação da Real Academia, que sucedeu a antiga Aula de Fortificação do Rio de Janeiro (criada em 1699), foi um marco. Ela não era uma simples aula como os cursos anteriores, tendo já o caráter de um verdadeiro instituto de ensino superior, e tornou-se a base para a implantação da Academia Real Militar.
Crédito da Imagem: Thiago Diniz/Rolé Carioca
Mais tarde, já em 1811, o Príncipe Regente, futuro Rei D. João VI, assinou uma lei criando a Academia Real Militar, que veio suceder e substituir a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, e de onde descende, em linha direta, a famosa Escola Politécnica do Rio de Janeiro, agora da UFRJ. Em 1858, passou a chamar-se Escola Central e abrangia três cursos distintos: um curso teórico de Ciências Matemáticas, Físicas e Naturais, um curso de Engenharia e Ciências Militares, e um curso de Engenharia Civil, voltado para as técnicas de construção de estradas, pontes, canais e edifícios, que era ministrado aos civis que frequentavam as aulas.
Crédito da Imagem: Thiago Diniz/Rolé Carioca
Um conjunto de 10 bandeiras que refletem as transformações políticas do Brasil pode ser observado logo na entrada do MHN. Até 1645, o país utilizou os mesmos estandartes de Portugal, como a Ordem de Cristo, Real, de Dom João III e do Domínio Espanhol. Depois, passou a ter seus próprios, como as bandeiras criadas para o Principado do Brasil (1645 – 1816), a do Reino de Portugal, Brasil e Algarves (1816-1821), a Imperial do Brasil (1822-1889) – que introduziu as cores verde e amarelo com a Independência do país - e a Provisória da República, de inspiração norte-americana, usada por apenas 4 dias após a Proclamação da República.
Ao contrário do que se pode imaginar, a Casa do Trem nunca funcionou como um galpão de estrada de ferro. No passado, “trem” era um nome genérico que se dava aos armamentos de um exército. Segundo o historiador Adler Homero, “no Século XVII e ainda no século XIX, esse termo era usado de forma mais restrita, como se fora ‘trem de artilharia’, ou seja, o conjunto de canhões e materiais necessários a seu funcionamento”. Este local serviu como um depósito onde poderiam ser feitos reparos de munições e todo tipo de apetrechos bélicos utilizados pelas fortalezas da cidade. Naquela época, todos os canhões e a pólvora eram trazidos de Portugal.
Credita-se a Valentim da Fonseca e Silva, o Mestre Valentim (1745-1813), a realização das primeiras esculturas em metal do Brasil. As peças foram fundidas na oficina da Casa do Trem, único local na época que permitia o trabalho com ligas metálicas e onde ele introduziu novas técnicas na fundição. Ali foram fabricados fontes, portões e ornatos de bronze em estilo rococó que notabilizaram Valentim como artista plástico e urbanista. Em 1783 edificou o Chafariz dos Jacarés do Passeio Público, talvez sua obra mais emblemática.
A engenharia brasileira nasceu em berço militar. Foi com o objetivo de construir fortificações que defendessem a colônia, ainda tão vulnerável a ataques de outros povos e corsários, que a Coroa Portuguesa determinou que engenheiros estrangeiros começassem a ensinar técnicas de fortificações, matemática, ciências e artilharia a oficiais brasileiros. Da Casa do Trem, atualmente parte do MHN, a Academia Real Militar teve sua sede transferida, em 1812, para o Largo de São Francisco de Paula, ocupando o 1º edifício construído no Brasil para abrigar uma instituição de ensino superior, que funcionou ali até 1966.
Ao longo do ano, o Museu Histórico Nacional promove uma série de atividades educacionais e recreativas em suas dependências, entre elas o projeto de visitas mediadas Bonde da História, voltada para jovens e adultos, e o Bondinho da História, para crianças entre 3 a 10 anos. A instituição também recebe mesas-redondas, cursos, seminários, lançamentos de livros, mostras de cinema, oficinais de colagem, desenho e criatividade, fora as exposições de longa duração e temporárias.
Consulte a programação: https://www.facebook.com/museuhistoriconacional/
Praça Marechal Âncora s/n°
Funcionamento: de Terça a Sexta-feira das 10h às 17h30; Sábados, Domingos e Feriados das 13h às 17h
Tel: (21) 3299-0324
Crédito da Imagem: Thiago Diniz/Rolé Carioca