Começou a ser ocupada no século XVI, pelos habitantes que desceram o Morro do Castelo
para formar o núcleo inicial da cidade. Os colonizadores ocupavam as áreas costeiras por várias razões estratégicas, econômicas e políticas. A expansão para a área mais plana entre os morros (Castelo, Santo Antônio, Conceição e São Bento) começou a partir da Rua Direita (hoje conhecida como Primeiro de Março), seguindo a linha ao longo da costa marítima.
Obra do artista negro Valentim da Fonseca e Silva, o Mestre Valentim, construído em 1789. Foi instalado à beira do cais com o objetivo de abastecer a população com as águas do rio carioca. No seu topo, há uma esfera armilar, um instrumento de astronomia aplicado à navegação. Provia também água aos navios, facilitando a operação das embarcações junto ao porto e cooperando com o desenvolvimento do comércio.
É um terminal hidroviário inaugurado em 1906 do qual partem e regressam as barcas que ligam a cidade do Rio de Janeiro a Niterói, à Ilha de Paquetá e à Ilha do Governador, por meio da Baía de Guanabara. Guanabara, seio do mar em tupi, a “mama” de onde brotava a água do mar, se prolongava e gerava as muitas vidas: humanas, da fauna e da flora. Eram muitas as ilhas e ilhotas que existiram antes dos afogamentos e aterramentos. Na mitologia do paraíso tupinambá, a gûaîupîa ou guajupiá era o lugar idílico.
Construída em estilo barroco em 1750 pela Irmandade dos Mercadores, simboliza a união entre fé católica e os interesses das elites mercantis no Rio de Janeiro colonial. Como outros edifícios do período, foi construída com mão de obra escravizada. As pessoas negras também buscavam associar-se em Irmandades para auxiliar seus membros. Para essas pessoas, o mar tinha significados complexos: símbolo de dor e separação, mas também elemento de conexão com o sagrado e suas terras natais.
Antes de se tornar o Espaço Cultural da Marinha, a área era ocupada pelas Docas da Alfândega. Essas docas eram usadas para atracação e manutenção de embarcações, bem como para atividades alfandegárias relacionadas ao comércio marítimo. Com o tempo, as docas foram desativadas e, em 1996, o espaço foi transformado em um centro cultural dedicado à história marítima e à navegação. Episódios de luta por direitos e liberdade também se entrecruzam a história da Marinha, como a Revolta da Chibata (1910).
A Orla Conde, também conhecida como Boulevard Olímpico, está no espaço anteriormente ocupado pelo Elevado da Perimetral. Ao ser aberta, possibilitou o acesso a uma parte da área que por mais de 200 anos esteve restrita a militares do 1º Distrito Naval. Está relacionada ao projeto Porto Maravilha que planejou uma requalificação da região portuária a partir de uma série de transformações com o objetivo de atrair investimentos e torna-la um polo de entretenimento e turismo.
Antes de sua construção, havia uma pequena praia nessa área. Por isso, no século XIX era conhecida como Prainha, aterrada no início do século XX para a construção da praça com o objetivo de abrigar um novo cais. A expansão para a região da Prainha foi alavancada com a construção do Cais do Valongo (1811), o maior receptor de escravizados do mundo, pelo qual passaram cerca de 1 milhão de africanos. Ficou desaparecido até ser reencontrado em 2011, durante as obras do Porto Maravilha. Esse projeto possibilitou também a fundação de instituições culturais, como o Museu de Arte do Rio e o Museu do Amanhã.
A fauna e a flora que existia na Baía de Guanabara, antes preservada pelos povos indígenas, foi devastada a partir da colonização. Um exemplo disso foi a caça das muitas baleias que ali existiam para a obtenção do óleo que era utilizado principalmente como fonte de combustível para lamparinas. Também era aplicado nos materiais de construção como liga entre as pedras. Esse cenário de caça pode ser visto em um dos quadros do artista negro Leandro Joaquim, conservado no Museu Histórico Nacional.
A Prefeitura do Rio reinaugurou em 2022 a estátua de João Cândido, o Almirante Negro, líder do movimento da Revolta da Chibata. A peça foi revitalizada e reposicionada para ganhar mais visibilidade: deixou a Praça XV, onde ficava atrás da estação do VLT, e passou a ocupar um espaço 300 metros adiante, na Praça Marechal ncora, de frente para o mar.
A construção da Avenida Brasil teve como consequência o aterramento de mangues, rios e praias do subúrbio carioca. Na região da Penha, por exemplo, existiu a Praia de Maria Angú, onde havia um porto que escoava para a área central a produção agrícola da Zona Oeste. De um dos trechos dessa praia surgiu a de Ramos. Nessas praias existiam quiosques, casas de banho e também era comum a tradição do “banho de mar à fantasia” durante o carnaval.
Desde 2002, no dia 29 de dezembro, ocorre a Festa de Iemanjá no Mercadão de Madureira, transformada em Patrimônio Cultural Carioca. Reunidos, fieis realizam um cortejo até a praia de Copacabana, onde empurram ao mar barquinhos com oferendas. Os umbandistas foram pioneiros em adotar a tradição de se reunir na véspera do ano novo na praia para esse ritual. O réveillon de Copacabana começou com influências das práticas das religiões afro-brasileiras, mas acabou se distanciando de suas raízes, dando lugar a um evento mais comercial e turístico.
Inspirado no conteúdo da exposição “O Rio dos Navegantes”, o primeiro podcast do Museu de Arte do Rio, “Águas de Kalunga”, apresenta histórias inéditas escritas por dez artistas convidados, que enaltecem a trajetória de personagens negros e a vinda de imigrantes para o Brasil. O podcast é narrado pela poeta, jornalista, cantora e atriz Elisa Lucinda
O Espaço Cultural da Marinha oferece Passeio Marítimo pela Baía de Guanabara com guiamento por pontos turísticos e históricos da cidade, com embarque na Orla Conde. O ingresso também dá direito a visita ao Espaço Cultural. Mais informações em https://www.marinha.mil.br/dphdm/passeio-maritimo-informacoes
Livro que revisita a história esquecida da Baía de Guanabara, reconstruindo a história do nosso litoral. Desafiando concepções urbanas hegemônicas, nos faz navegar por uma baía que marcou territórios ocupados por tupinambás, pessoas africanas escravizadas em luta por liberdade, pescadores, malandros poetas, foliões nos banhos de mar à fantasia, entre outros personagens.