Odeon é o nosso Maracanã do cinema
Depoimento de Cavi Borges,
Meu primeiro longa, “Vida de Balconista”, foi exibido no Odeon. “L.A.P.A” e “Cidade de Deus – 10 anos depois”, outros títulos meus, tiveram a oportunidade de passar lá. Inclusive um dos longas que rodei, “Um Filme Francês”, foi filmado dentro do cinema. O Odeon é um espaço muito emblemático. Costumamos dizer que é o nosso “Maracanã do cinema”, no qual os realizadores sonham que seus filmes sejam exibidos. Foi local de estreia de minhas produções durante o Festival do Rio e o Curta Cinema. Também frequentei o Cine Íris, não como cinema exatamente. Como espaço para eventos, organizei ali uma festa chamada “Loud”, com o pessoal da Casa da Matriz. Um sábado por mês, o Íris foi transformado em boate, tinha show no primeiro piso e projeção na cobertura junto com música eletrônica.
O caminho para as salas de cinema não fecharem é a reinvenção. Ser mais que somente uma sala de cinema: promover palestras, peças de teatro, festas, galerias. Diversificar o cinema de rua, atrair mais jovens através de atividades paralelas. Precisamos formar novos públicos cinéfilos interessados em ver e discutir filmes de arte. O próprio Estação Botafogo, que é um importante cinema de rua do Rio, tem apostado em outras atividades, como shows, exposições e teatro.
Em função disso, tivemos a ideia de produzir a peça “O Censor” dentro do Estação Botafogo. Aproveitamos que o texto do escritor escocês Anthony Neilson fala de um censor de filmes. Está sendo uma experiência ótima, uma peça dentro de uma sala de cinema. Estamos misturando cinema e teatro.
A Cavídeo não para. Funciona como locadora, produtora e distribuidora. No início, a locadora sustentava as outras funções. Hoje em dia, isso se inverteu. Mas considero importante manter essas atividades funcionando juntas, porque uma complementa a outra. Atualmente, organizamos 3 cineclubes e auxiliamos outros 12. Em agosto, comemoramos 22 anos de atividade e vamos fazer uma mostra de uma semana no Estação, lançando um longa por noite.
No momento, estou no meio das gravações de uma série sobre o Movimento Black no Rio, 5 episódios de 50 minutos. Outra produção em finalização é um longa de vampiro passado em Portugal. Fui até lá lançar o “Fado Tropical” e aproveitei para filmar outro, um projeto que desenvolvo chamado “Filmes de Viagem”, transformo as viagens em filmes. No meio disso, estou filmando curtas, produzindo um clipe do Thiago Martins e um vídeo mais institucional para o projeto Reação do judoca Flavio Canto. Na distribuidora, vamos lançar nos próximos meses o longa “A Serpente”, baseado na obra de Nelson Rodrigues, o documentário sobre o Bar Semente, da Patrícia Terra, e outro longa meu, chamado “Reviver”, gravado no Maranhão.
Cavi Borges é produtor, diretor e empresário do setor de cinema. Fundou a Cavídeo, locadora especializada em filmes raros e de arte, referência entre os cinéfilos do Rio, que mais tarde se tornou produtora e distribuidora de filmes.