Parque das Ruínas e a energia de uma mulher à frente do seu tempo
Depoimento de Gilson Augusto de Barros,
"Não conhecia Santa Teresa quando comecei a trabalhar no Parque das Ruínas. Foi paixão à primeira vista, tanto que, hoje em dia, sou morador do bairro. Quem morou aqui na área que o Parque das Ruínas ocupa foi Laurinda Santos Lobo, uma mulher super festeira, à frente do seu tempo, que representa bem a Belle Époque carioca. A energia dela é o que nos move neste trabalho.
O Parque é um espaço plural que envolve a cultura tradicional (teatro, música, poesia) e a inter-relação de pessoas com visão sobre a cultura. Temos uma média de público de 35 mil visitantes por mês, bem maior do que anos atrás. Os turistas estrangeiros adoram Santa Teresa, e o Parque é uma referência cultural do bairro.
Nosso objetivo é que todos os visitantes, artistas e turistas, saiam daqui com a seguinte visão: “o Parque é do caramba, é fantástico!” Porque é isso que traz as pessoas até aqui. Como Santa Teresa não é um bairro de passagem, o acesso não é dos mais fáceis. Além da beleza - o visual é um dos atrativos daqui – devemos oferecer essa energia boa: tem que sorrir pras pessoas e ter o coração mais aberto. O que move o espaço cultural é esse espírito que os artistas passam. Essa é a troca principal do nosso trabalho aqui.
Para vocês do Rolé Carioca que vão vir aqui no domingo, não deixem de visitar o mirante, de onde se tem uma visão do Cristo Redentor, de toda a Baía de Guanabara até a Igreja da Penha.
Depois, pra quem curte teatro, agora em maio teremos a temporada da premiada peça “Atos de Comunhão”, de Gilberto Gawronski, e também o texto “Anti-Nelson Rodrigues”, com o Tonico Pereira e grande elenco. Também em maio, sediaremos mais uma edição da Flist – Festa Literária de Santa Teresa."
Ator e diretor de teatro com bacharelado em artes cênicas pela UNIRIO, Gilson Augusto de Barros atua há 7 anos na gestão do Parque das Ruínas, inaugurado em 1997 pela Prefeitura do Rio de Janeiro, onde antes situava-se a residência de Laurinda Santos Lobo.
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A História do Parque das Ruínas
Laurinda Santos Lobo era sobrinha de Joaquim Murtinho Nobre - que dá nome à rua onde situa-se o Parque - famoso médico e fundador da homeopatia no Brasil, e destacado personagem da República Velha. A casa foi doada a Laurinda por seu tio (que, dizem, era também seu amante). Laurinda destruiu a casa original e em seu lugar construiu seu palacete em estilo neocolonial. Nascida em Cuiabá no ano de 1878, a fortuna de sua família provinha da indústria agropecuária de exportação, motor da economia brasileira na época. Nesta residência, Laurinda comandava um dos mais efervescentes salões da Belle Époque carioca. Em suas festas entretinha seus convidados com música, poesia, dança e um serviço de cozinha impecável. Heitor Villa Lobos compôs a peça Quattour Impressões da Vida Mundana em homenagem a Senhora Laurinda, que além de uma anfitriã famosa, foi importante ativista pelos direitos da mulher, fundou e foi a primeira presidente do Movimento Sufragista Feminino, e também, personagem constante nas crônicas de João do Rio, recebendo a alcunha de "Marechala da Elegância". Isadora Duncan e Antonele France se destacaram entre os convidados internacionais que, de passagem pelo Rio de Janeiro, então capital da República, visitaram e abrilhantaram esses salões. Com sua morte em 1946, a casa passou por longo período de abandono. Em meados dos anos 60, começou a sofrer saques, tendo objetos, obras de arte, mobílias, pisos e telhas roubados, começava então, o processo de arruinamento. Durante anos as ruínas se tornaram residência de bandidos e traficantes, sendo desapropriada pela prefeitura, no final dos anos 70, a pedido da comunidade local. Em 1996, a prefeitura do Rio convidou os arquitetos Ernani Freire e Sônia Lopes a desenvolver o projeto final da casa que une às ruínas do palacete neocolonial a estruturas modernistas, com coberturas e janelamentos em ferro e vidro, escadarias e patamares de ferro que dão acesso aos 3 pavimentos da casa e são responsáveis pela estabilidade de sua estrutura, criando espaços de circulação interna com o fim de oferecer à população do Rio de Janeiro um espaço nobre para a cultura (com teatro, sala de exposição, circo, um café, etc...) e para a contemplação, administrado pela Secretaria de Cultura da Cidade do Rio de Janeiro.