Despertar o interesse do público em ações de preservação do patrimônio histórico que existe no Rio de Janeiro é um dos méritos do #RoléCarioca. Foi a partir do passeio realizado pela Glória, em 2017, que os rolezeiros Josué e Adriano Soares Pereira começaram a participar do processo de recuperação de um dos edifícios históricos mais significativos do bairro: o Templo da Humanidade, sede da primeira igreja positivista do mundo. O pedido de ajuda feito pela diretora de patrimônio da instituição, Christiane de Souza, diante da fachada interditada para obras na Rua Benjamim Constant, não passou desapercebido.
Desde então, os dois participantes do Rolé, ao lado de outros voluntários, se reúnem a cada dois domingos para organizar as obras e quase 15 mil livros do acervo da entidade. Com a revitalização, a ideia é transformar o prédio em um equipamento cultural aberto à visitação pública e a pesquisadores do Brasil e do exterior. Para entrar nessa ação de restauro, é possível se associar no site da AATH - Associação dos Amigos do Templo da Humanidade (http://aath.org.br/) ou por email: igrejapositivistabrasil@gmail.com.
Um ano de voluntariado depois, Adriano e Christiane estiveram juntos novamente em um Rolé - desta vez na edição Visita – Museu Nacional. Batemos um papo com os dois sobre essa experiência:
- O que te interessou no Rolé Visita – Museu Nacional?
(Adriano) Nunca tinha entrado no Museu Nacional. O incentivo do Rolé, de promover visitas aos museus, é muito importante. O público costuma dizer que gosta de museu, mas são poucos os que realmente frequentam. Então essa iniciativa é importante para motivar a frequência do público.
(Christiane) Aqui no antigo palácio da monarquia eu procuro ver as coisas pelo enfoque republicano, dos positivistas. É muito fácil identificar elementos e personagens da história republicana. Por exemplo, o Marechal Rondon, que era positivista, está representado num quadro logo no saguão de entrada do museu. Rondon criou o Serviço de Proteção aos Índios, a ideia embrionária da Funai. Na igreja, temos relatórios da demarcação de terras que Rondon fez na Amazônia. O pintor poderia ser Décio Villares, que também era positivista e tem várias obras espalhadas em outros museus do Rio: o Histórico Nacional e o Museu da República. (Nota: o retrato de Rondon exposto no Museu Nacional é de autoria do pintor Giuseppe Boscagli, que retratou expedições de Rondon pelo interior do Brasil).
- Como conheceram o Rolé Carioca?
(Adriano) Por um “Programão” do Fábio Judice exibido no RJTV em 2015. Meu primeiro Rolé foi o dos 450 anos do Rio, sobre a ocupação inicial da cidade. Estava me sentindo muito caseiro e buscando atividades ao ar livre com baixo custo. De 2016 para cá, tenho participado de todos os passeios do Rolé. Já completei dois cartões fidelidade, rs
(Christiane) Meu primeiro grande desafio foi discursar sobre o Templo da Humanidade e os ideais positivistas para a plateia do Rolé Carioca. Sou advogada de formação, e trabalho na Igreja Positivista desde 2004. Costumo recepcionar pesquisadores e interessados na história do edifício, sempre em grupos pequenos. Quando me ligaram para receber o Rolé, imaginei que seriam, no máximo, umas 60 pessoas, que não ia precisar de microfone, rs. No dia foram mais de 400, fecharam a rua!
- O trabalho que realizam juntos começou num Rolé, como foi isso?
(Adriano) Conheci a Christiane e o projeto de voluntariado junto ao Templo da Humanidade no Rolé da Glória, em maio de 2017. Me interessei porque queria fazer um trabalho voluntário e ainda mais sendo relacionado à história e à literatura – como sou poeta, tenho ligação especial com livros e bibliotecas. Também estava curioso para saber como era o interior do Templo.
(Christiane) Como estava precisando de ajuda no trabalho de catalogação do acervo, fiz ali um pedido público para quem quisesse se tornar voluntário dessa ação. O Adriano, que é poeta e membro da Academia Brasileira de Poesia, e o Josué, auxiliar de veterinário, entraram para o voluntariado e estão há um ano dentro do templo aos domingos. Os dois me ajudam imensamente, inclusive para carregar peças mais pesadas do acervo, como bustos e quadros grandes, que não conseguiria sozinha.
- Que #RoléCarioca você sugere para o futuro?
(Adriano) O Rolé precisa voltar à Igreja Positivista quando o restauro estiver finalizado e o templo reabrir para o público. Um lugar que gostaria que o Rolé visitasse é o bairro onde moro, a Ilha do Governador. Acho até difícil o Rolé cobrir tudo num passeio só. Em 2017, a Ilha completou 450 anos de fundação, tem muita história ali.
(Christiane) Tomara que aconteça novas parcerias com o Rolé e, com o restauro do Templo, possamos guia-los novamente, desta vez dentro do edifício. Ao longo do tempo, fui descobrindo publicações e outros itens do acervo, principalmente sobre a memória do mundo, que são de autores positivistas. Com esse conhecimento adquirido, sempre há informações novas para transmitir. Realizamos uma parceria com a Universidade Estácio, que me deixa muito feliz, e com apoio do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus), o Templo da Humanidade retoma um lugar importante no cenário cultural. Estamos descobrindo verdadeiros tesouros no Museu da República, uma série de documentos sobre a criação da igreja no Brasil. É incrível ver as pessoas olhando o templo com outro olhar, ver o interesse das pessoas pela causa dos positivistas. Porque já existiu um verdadeiro tabu em relação a isso. O lema positivista está na bandeira do nosso país! Como isso ficou esquecido, sem o olhar das autoridades, do governo... Mas com certeza vem coisa boa aí.