Com o #RoléCarioca, a ex-moradora do Andaraí Katia Mara Ferreira Carneiro viu com outros olhos lugares que já conhecia no bairro. Recém-formada no curso de história da Estácio (unidade Jacarepaguá), Kátia conta que seu interesse por passeios guiados começou quando se graduou como técnica em guia de turismo e que foi se apaixonando cada vez mais por esse tipo de atividade.
“Inclusive, pela minha faixa etária mais avançada, rs, e com o olhar que tenho agora, vejo de outra forma locais que já visitei anteriormente. Não é só o lado urbano, tem o lado histórico.” Para Kátia, o trabalho de valorização da cidade do Rolé Carioca tem relevância por dar conhecimento. “Tendo conhecimento, você valoriza e respeita mais. É uma ação que faz com que o descaso acabe”.
Como conheceu o Rolé Carioca?
Me formei como técnica em guia de turismo, então já participei de vários passeios, inclusive com professores da Estácio. E fui me apaixonando cada vez mais por isso tipo de atividade. Inclusive, com o olhar que tenho agora, vejo de outra forma locais que já visitei anteriormente. Não é só o lado urbano, tem o lado histórico. O trabalho realizado através de ‘walk tour’, que acompanho há algum tempo, é uma oportunidade para qualquer um. Independente se mora na favela, no centro, se é suburbano, se mora na praia, zona norte ou sul. Não importa. Quando você conhece as origens – como a cidade surgiu, a arquitetura e os prédios ainda preservados, você valoriza e respeita mais. Percebe que não é só um subúrbio, um bairro pequeno ou grande, conta toda sua história. É uma ação que faz com que acabe o descaso, até mesmo de órgãos públicos, como aconteceu há pouco tempo com o Museu Nacional.
Que outros Rolés já te chamaram a atenção?
Todos do centro histórico do Rio – da Primeiro de Março, Rio Branco, Orla Conde, Central do Brasil, Praça Tiradentes, Saara, Praça XV, Cinelândia/Lapa. A partir desse contato que fiz nesses rolés, quando vou ao centro da cidade ou entro num templo religioso, passei a reparar os detalhes e a importância de vários espaços. Vejo que o Rolé Carioca já está dando crias! Muitos grupos, mesmo individuais, já estão trabalhando com essa valorização da cidade. Que vale não só para o Rio de Janeiro, como para todo o país. O Brasil todo merece projetos como o Rolé Carioca. De valorização de outras culturas. Tem gente que prefere passear na Europa – nada contra, também faz parte da nossa formação. Mas o brasileiro tem várias misturas que precisam ser conhecidas, somos afrodescentes também.
Por que escolheu a Rua do Ouvidor como tema do seu TCC (trabalho de conclusão de curso)?
Focalizei no centro do Rio de Janeiro porque ali aconteceram vários eventos, inclusive da época da vinda da corte portuguesa para o Brasil e quando o Rio se tornou capital do país. Nos estágios que fiz para a pesquisa, no contato com adolescentes, do ensino fundamental e médio, identifiquei a falta de conhecimento que existe sobre a própria cidade. Quando não sabem como aquilo surgiu, não há interesse na visita, acham que ‘vão olhar de um jeito estranho’. O ser humano precisa buscar sua identidade no espaço para poder circular, ocupar, sem limitar o acesso aos lugares. O noticiário que a gente lê também reflete nessa falta de valorização – pessoas se sentem coagidas pela informação negativa, acham que não devem circular por determinados lugares. Mas se você começa a ocupar esse espaço, valorizar e se identificar no espaço – taí o ponto de melhoria. O incentivo é importante – meus pais, mesmo com poucos recursos, sempre incentivavam a visita aos museus, ao Theatro Municipal, sempre tem lugares a preços populares. Às vezes a pessoa nem sabe disso, não tem o conhecimento que pode assistir a um concerto com entrada gratuita.