O Rolé Carioca embarca mais uma vez na Central do Brasil para percorrer o bairro mais icônico do subúrbio carioca: Madureira. Este “hub” geográfico das zonas norte e oeste, popular como terra do samba, do charme e do jongo, é um verdadeiro caldeirão de culturas e vivências. Cruzando por sobre a linha do trem, vamos discutir a resistência da cultura negra e afro-brasileira, apresentada em tantas e diversas manifestações, na quadra da Portela, nas festas embaixo do viaduto, no jongo da Serrinha e no burburinho do Mercadão.
A história do bairro se relaciona ao estabelecimento do subúrbio do Rio ao longo do eixo da velha ferrovia, inaugurada no século 19 por D. Pedro II. Madureira fazia parte da Fazenda do Campinho, uma área rural em que a pecuária e produção de cana-de-açúcar eram relevantes. A virada do século XX deslocou essa fronteira agrícola para o interior, resultado de um conjunto de fatores ligado ao início da industrialização e à tentativa de modernização da cidade. Num longo e contínuo processo de transformação, antigas fazendas foram desmembradas e deram lugar às fábricas, ao mesmo tempo em que moradores de favelas e cortiços foram removidos das áreas mais centrais para a periferia.
De “cidade febril”, concentrada na região central, o Rio se tornou uma “cidade bipartida” entre Zona Sul e a Zona Norte, como sintetizou Chico Buarque em sua ode ao malandro: “Eu fui fazer um samba em homenagem, /A nata da malandragem que eu conheço de outros carnavais / Eu fui a Lapa mas perdi a viagem pois aquela tal malandragem não existe mais. (...) Mas o malandro para valer não espalha, abandonou a navalha, tem mulher e filho e coisa e tal, dizem as más línguas que ele até trabalha, mora lá longe chacoalha no trem da Central.” Fruto de diversos fluxos migratórios, inclusive de estrangeiros, Madureira se estabeleceu como um epicentro comercial, marca que carrega até hoje. Virou estrela entre os suburbanos que continuam se deslocando pela mesma via férrea de outrora. É um outro lado do Rio de Janeiro, nem sempre contado e visto, que você verá nesse Rolé.
Crédito da Imagem: IBGE
Foi inaugurado em 2012, fruto de um projeto de modernização e reforma urbana do entorno deste centro comercial do subúrbio. É uma ampla área aberta para prática de esportes e lazer com cerca de 93 mil m². Em tamanho, perde apenas para o Aterro do Flamengo e a Quinta da Boa Vista. E não é superlativo apenas em suas medidas, mas também nos itens e opções ao público. Modernas pistas de skate e inúmeras quadras poliesportivas dividem o espaço com palcos para shows, quiosques e a praça do conhecimento, que oferece cursos e acesso à internet.
Crédito da Imagem: Bia Sartorio/Rolé Carioca
É considerada a mais antiga escola de samba em atividade permanente. O Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela foi fundado em 1923 em Oswaldo Cruz, mas é parte da história de Madureira. Se instalou definitivamente no bairro em 1972, com a construção da sua sede, o ‘Portelão’. Na ocasião, a rua da quadra tinha outro nome. Recebeu o nome de Clara Nunes posteriormente, em homenagem à ilustre cantora que tanto amava a azul e branco.
Crédito da imagem: Thiago Diniz/Rolé Carioca
A abertura da estação ferroviária de Madureira ocorreu em 1890 pela Central do Brasil, e seu nome é mais uma homenagem ao antigo proprietário do terreno. Um detalhe é que, até a instalação desta estação, os moradores da região utilizavam a parada de Cascadura para se locomover, distante aproximadamente 1,2 Km de Madureira.
Crédito da Imagem: Bia Sartorio/Rolé Carioca
Na época em que foi construído, nos anos 1970, o Viaduto Negrão de Lima era o maior do município. Desde então, a parte inferior do elevado passou a ser ponto de encontro e difusão da cultura negra. Inicialmente, com a predominância do samba na região, havia ensaios de blocos e rodas de samba. Virou reduto do charme na década de 1990, quando o ritmo dividia espaço e atenção nos bailes de funk cariocas. Um animado baile de rua da black music fincou território sob o viaduto, transformando-o em seu ponto máximo de referência, com público cativo até hoje. Sobretudo, ampliou a identidade do bairro de Madureira, já ligada ao jongo e ao samba.
Endereço: Viaduto Prefeito Negrão de Lima.
Site: http://viadutodemadureira.com.br/
Crédito da imagem: Thiago Diniz/Rolé Carioca
A história dessa estação e da Escola de Samba Império Serrano estão ligadas. Antigamente, os componentes da Império usavam um trem exclusivo para desfilarem na Praça Onze. Uma curiosidade é que no carnaval de 1975, quando a escola homenageou Zaquia Jorge, atriz do teatro de revista conhecida como “vedete de Madureira”, um dos sambas perdedores da disputa para o samba enredo do ano acabou se tornando famoso. O “Estrela de Madureira” cantava que Zaquia “Do subúrbio da Central foi (tinha sido) a pioneira” e que “um trem de luxo parte para exaltar a sua arte, que encantou Madureira”.
Crédito da imagem: Thiago Diniz/Rolé Carioca
É referência para o comércio popular do Rio, com mais de 580 lojas e uma enorme variedade de produtos e serviços, que vão de ervas medicinais a roupas e utensílios domésticos. As origens do que se conhece como "Mercadão" remontam ao ano de 1914, quando uma pequena feira de produtos agropecuários foi instalada no local onde hoje fica a quadra da escola de samba Império Serrano. A sede foi transferida em 1916 e passou por uma ampliação em 1929, acompanhando o crescimento populacional da região. Nos anos 50, essa estrutura atingiu o limite de sua capacidade operacional, levando a uma nova mudança, em 1959, quando passou a ocupar o lugar atual. A partir daí, o mercado se diversificou, tornando-se o maior centro de distribuição do subúrbio carioca. Nos anos 2000, um grande incêndio destruiu parte do prédio, que foi demolido e reformulado como o conhecemos hoje.
Endereço: Avenida Min. Edgard Romero 239.
Site: http://www.mercadaodemadureira.com
Crédito da imagem: Thiago Diniz/Rolé Carioca
Há 50 anos, o grupo Jongo da Serrinha difunde o ritmo africano que é tido como precursor do samba carioca. O jongo, ou caxambu, tem sua origem na região africana do Congo-Angola, e chegou ao Brasil com os negros de origem bantu que foram enviados para fazendas de café do Vale do Paraíba. Trata-se de uma dança para o divertimento, mas uma atitude religiosa permeia a festa. O jongo era um dos poucos momentos de troca e confraternização permitido nos dias dos santos católicos.
Crédito da Imagem: Mapa cultural do RJ
Como tantas outras regiões do Rio, a denominação do bairro deriva do sobrenome de um antigo arrendatário dessas terras. Consta que um boiadeiro de nome Lourenço Madureira arrendou o terreno que era parte da Fazenda do Campinho nos idos de 1800. Com a morte do proprietário, Francisco Inácio do Canto, iniciou-se uma disputa pelas terras, vencida por Madureira, que passou a deter a propriedade do imóvel até o ano de seu falecimento, em 1851.
Madureira serviu de inspiração para o fictício bairro do Divino em um dos maiores sucessos recentes da teledramaturgia nacional, “Avenida Brasil”. No reduto do ex-jogador Tufão, o hit é a moda que vende no Mercadão, um tradicional baile de charme agita as noites de sábado e qualquer semelhança do Divino Futebol Clube com o Madureira Esporte Clube não é mera coincidência.
A notoriedade de Madureira também se deve às canções que falam dali. O bairro já teve suas glórias e mazelas eternizadas nas vozes de muitos intérpretes da MPB. Você sabe qual é a música?
“O meu lugar é caminho de Ogum e Iansã / Lá tem samba até de manhã”
“A estrela vai brilhando / Mil paetês salpicando / Num show de poesia / A vedete principal / Do subúrbio da Central foi a pioneira”
“É de Madureira, São José / Tu protejas a serrinha / Que felicidade minha /Eu poder te contemplar”
“Delegado Chico Palha / Sem alma, sem coração / Não quer samba nem curimba / Na sua jurisdição”
Como diria o samba, “se eu for falar da Portela, hoje eu não vou terminar”. Se juntar com o Império Serrano, então... Um pequeno resumo dos de azul e branco traria: Natal da Portela, que consolidou o papel da escola como agremiação de grande porte ao lado da Mangueira, Paulinho da Viola, que criou a Velha Guarda e soube como ninguém expressar o espírito da escola em suas composições, e Clara Nunes, uma de suas vozes mais conhecidas do público que não frequenta Carnaval. Do lado verde e branco, nada menos que D. Ivone Lara, primeira mulher a fazer parte da ala de compositores de uma escola de samba, Silas de Oliveira, autor de temas insuperáveis como “Aquarela Brasileira”, e Arlindo Cruz, sambista de renome atual
Tradicional escola de samba da cidade, a Portela é chamada carinhosamente de "A Majestade do Samba" e compõe, com a Deixa Falar e a Mangueira, a tríade de fundação do carnaval carioca. Foi oficialmente criada em 1923, a partir de um bloco carnavalesco de Oswaldo Cruz. Seu nome tem origem no Brasil colonial, quando o que se conhecia como Freguesia de Irajá era ocupada por engenhos de açúcar, entre os quais, o do Portela – situado entre a Fazenda do Campinho e Rio das Pedras –, nas redondezas do que é hoje o bairro de Madureira.
O Madureira Esporte Clube foi o primeiro time do mundo a jogar bola em Cuba depois da revolução socialista de 1959, sendo recepcionado pelo revolucionário latino-americano Che Guevara, que tinha grande apreço pelo futebol.
O espaço tem atrativos esportivos e culturais para todas as idades e gostos. Dá para aproveitar as inúmeras quadras poliesportivas, o conjunto de mesas de pingue-pongue, xadrez e damas ou as pistas de skate – a maior rampa foi projetada pelo campeão mundial da modalidade, Bob Burnquist. Entre as atividades físicas com programação regular, estão aulas de taekwondo, judô, capoeira, tai chi chuan, yoga, futebol society e dança de salão. Eventos e festivais ocupam o parque com frequência, em especial os dedicados às danças urbanas e às vertentes do charme e hip hop. A programação musical inclui shows com feras do samba, egressos das vizinhas Portela e Império Serrano.
Consulte a programação: https://www.facebook.com/ParquedeMadureira/
End: Rua Soares Caldeira, 115
Crédito da imagem: Thiago Diniz/Rolé Carioca
Nos anos 90, o ritmo charme dividia espaço e atenção nos bailes de funk carioca cariocas e fincou território sob o Viaduto de Madureira, transformando-o em seu ponto máximo de referência. Com público cativo, os bailes que ali acontecem não são procurados só por quem quer ouvir o R&B e sua variações, mas também por dançarinos que disputam espaço na pista de dança.
Endereço: Espaço Cultural Rio Charme - Rua Carvalho de Souza, s/nº (embaixo do Viaduto Negrão de Lima) - Madureira
Funcionamento: Todos os sábados, às 22h - Ingressos: R$ 5 a R$ 10
Site: www.facebook.com/viadutomadureira
Créditos da Imagem: blackwomenofbrazil.co
Como mercado popular, oferece diversidade de produtos. Destacam-se: o Mercadão de Ervas, com mais de 30 “boxes” que vendem plantas e ervas medicinais; o Massambaba Bazar, que ficou conhecido como loja dos pinguins, por oferecer cerca de 50 modelos diferentes, em porcelana, para decorar a geladeira; e a Aluap Pipas, especializada em papagaios, que vende pipas prontas e também material para confeccioná-las.
Endereço: Avenida Ministro Edgard Romero, 239 - Madureira.
Telefone: 3355-9044.
Horário de funcionamento: Seg a Sáb das 7h às 19h / Domingos e feriados das 7h ao meio-dia.
Site: www.mercadaodemadureira.com
Crédito da imagem: Thiago Diniz/Rolé Carioca
Todo segundo domingo do mês, o bairro de Oswaldo Cruz, vizinho ao de Madureira, recebe a feira com comidas típicas e toque africano. Ao todo, são 16 barracas, cada uma delas com sua especialidade: rabada, mocotó, abóbora com camarão e feijoada. Para completar, cerveja gelada e uma atração musical a cada evento.
Endereço: Praça Paulo da Portela, s/nº - Oswaldo Cruz
Funcionamento: Todo segundo domingo do mês, às 13h - Entrada Gratuita
Site: https://www.facebook.com/feiradasyabasoficial/
Créditos da Imagem: mapadecultura.rj.gov.br
TEMPORARIAMENTE FECHADO