Aberta no início do século XX com o nome de Avenida Central, a Avenida Rio Branco é parte de uma época de grandes intervenções urbanísticas na cidade. Quando muitos dos antigos casarios, vindos dos tempos coloniais ou construídos após a chegada de D. João VI, foram derrubados. Nessa época, a cidade expandiu seus limites para o subúrbio e a Zona Sul. Enquanto essas zonas guardavam ainda características residenciais, a "cidade" - como passou a ser chamado o centro do Rio – era o espaço no qual a população buscava divertimento, novidades e informações, no Centro renovado e revitalizado.
As transformações fizeram parte da plataforma de governo de Rodrigues Alves (1902-1906), incluindo o saneamento e a extinção das endemias da então capital do país. Para que lograsse sucesso na empreitada, o presidente nomeou para prefeito o engenheiro Pereira Passos, que foi o responsável pelas obras que pretenderam levar o Rio a ser uma "Paris dos trópicos" e, para diretor do Serviço de Saúde Pública, o médico Oswaldo Cruz. Desse período, um dos empreendimentos mais representativos foi a abertura da Avenida Central, que em 1912 passou a ser chamada Rio Branco (nome que permanece até hoje) em homenagem ao Ministro do Exterior de Rodrigues Alves, José Maria da Silva Paranhos Junior, conhecido como Barão do Rio Branco.
Ao se tornar uma das artérias de maior movimento da cidade, com tráfego intenso, a Rio Branco se transformou radicalmente: os primeiros edifícios deram lugar a inúmeros arranha-céus comerciais e empresariais ao longo de todo o seu trajeto. Poucas edificações históricas são remanescentes do início do século. A mais recente reforma, com a criação do Boulevard Olímpico e a passagem do VLT, buscou retomar o princípio de sua abertura: um lugar de encontro, mais propício às caminhadas, equipado com o Teatro Municipal, o Museu de Belas Artes, o Cine Odeon, que oferecem diversas opções de entretenimento e cultura, e ao lado da região de comércio formada pelo Largo da Carioca e Uruguaiana.
O conjunto arquitetônico da Praça Marechal Floriano foi muito modificado nos anos 70, mas ainda representa a melhor expressão do urbanismo acadêmico carioca ao lado da Avenida Rio Branco. Seu nome tem origem na história da Companhia Cinematográfica Brasileira e do empreendedor Francisco Serrador, que incentivou ali a construção de um complexo de cine-teatros inspirado na Broadway da Nova Iorque dos anos 1920. Das construções originais que ocuparam o local do antigo Convento da Ajuda restam alguns dos primeiros arranha-céus cariocas: os edifícios Fontes (praça Floriano 55); Heidenreich (rua Álvaro Alvim, 24); Natal (rua Álvaro Alvim, 48) e Odeon (praça Mahatma Ghandi, 2).
Foto: Halley Pacheco de Oliveira
O prédio modernista de 1952 se destaca dos vizinhos por sua inovadora fachada ondulante. O recurso adotado pelos arquitetos, extremamente inovador para a época, proporciona à construção uma aparência dinâmica, de movimento. Esta sensação era originalmente reforçada por brises em alumínio individualmente móveis, que tinham como objetivo proteger a fachada oeste da forte incidência solar, posteriormente removidos. Percebe-se a integração do pavimento térreo com a rua através da rampa, pavimentada com a mesma pedra portuguesa da calçada, um prolongamento do espaço público urbano.
Foto: Thiago Diniz
Na época da abertura da Avenida Central, foram erguidos edifícios para grandes clubes, caso do Jockey Club e o Derby Club, vizinhos e interligados na esquina da atual Almirante Barroso. Mais adiante, havia o primeiro prédio do Clube de Engenharia, que ruiu. O remanescente deste grupo é o Clube Naval. O acesso se faz pelo chanfro entre as fachadas. O arquiteto Bezzi acrescentou, ao estilo Luis XVI dominante, elementos neogregos na fachada, voltada para a Rio Branco, alguns dos quais foram modificados com o fechamento do quarto andar e o acréscimo, em 1928, de um quinto piso.
Foto: Thiago Diniz
É uma das ruas mais antigas do Rio, com registros de sua existência por volta do ano de 1578, quando então era chamada de Rua Desvio do Mar. Seu nome atual deve-se ao fato de ter sido o logradouro dos ouvidores, denominação dada aos magistrados no Brasil do antigo Império Português. No Brasil, os ouvidores eram juízes nomeados pelos donatários das capitanias e posteriormente pelos Governadores Gerais e Vice-Reis. Por esta razão, passou a ser chamada de Rua do Ouvidor, desde a metade do século 18. Tornou-se importante ao longo dos séculos, tendo seu auge no século 19 e início do século 20, quando era ponto das melhores lojas e confeitarias da cidade, praticamente um ‘clube ao ar livre’ da alta sociedade.
Foto: Gaban
Inaugurado em 1908, o edifício da Companhia Docas de Santos - onde está instalado o Iphan - foi construído em comemoração do centenário da abertura dos portos brasileiros ao comércio mundial, por D. João VI, em 1808. Neste edifício, a fachada tem em cada pavimento um ritmo próprio e uma filiação estilística diferente. O grande destaque é, sem dúvida, a porta central neobarroca entalhada. O interior combina a ornamentação acadêmica elementos industriais à mostra, inclusive duas lajes de tijolos de vidro para iluminação dos primeiros pavimentos. No saguão de acesso há pinturas murais.
Crédito: Bruno BSB
Remanescente da primeira geração de prédios da Avenida Central, teve sua construção iniciada com a avenida, sendo inaugurado em 1906. O interior tem uma rotunda decorada por painéis de mosaicos dourados. Na fachada, colunas neoclássicas em mármore de Carrara e janelas decoradas com guirlandas. No interior há uma cúpula de vidro com estrutura metálica fabricada por Braine-le-Comte. Foi sede da antiga Caixa de Amortização até ser decretada sua extinção em 1967, quando dividia o espaço com o já criado Banco Central.
Foto: Thiago Diniz
Marco para a construção civil, o edifício dominava o centro do Rio na época de sua inauguração, em 1929. É um símbolo da verticalização da cidade e do uso da tecnologia do concreto armado. Seus 22 pavimentos contrastavam com o gabarito utilizado até então, de até 8 pisos. O projeto do arquiteto francês Joseph Gire e do brasileiro Elisiário Bahiana tem fachada e áreas internas em estilo art déco. Abrigou os estúdios e o auditório da lendária Rádio Nacional, que foi o centro da vida cultural do país até o advento da TV e por onde circularam Sílvio Caldas, Francisco Alves, Orlando Silva, Cauby Peixoto, Emilinha, Marlene e Dalva de Oliveira. Atualmente, é sede do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e aguarda um possível retorno da Rádio Nacional para o edifício.
Foto: Thiago Diniz
Reza a lenda que os fantasmas de Olavo Bilac e Arthur Azevedo são frequentadores assíduos do Theatro Municipal. Os dois escritores foram entusiastas da construção do edifício, sendo que o primeiro fez o discurso de inauguração do mesmo, em 14 de julho de 1909. O segundo morreu 9 meses antes de conclusão da obra, o que teria levado seu espectro a circular em frente ao palco, na eterna tentativa de dizer umas palavras à plateia. Segundo relatos de funcionários, também vagam por ali almas penadas de bailarinas, cantores, violonistas e compositores. Carlos Gomes, inclusive, é visto com amiúde admirando sua própria estátua através de uma janela da rotunda lateral do teatro.
”Ontem inaugurou-se a avenida. Está bonita; cheia de canteirinhos, candelabros, etc.; mas os edifícios são hediondos. Não que sejam feios, ao contrário, são garridos, pintadinhos, catitas; mas lhes falta, para uma rua característica de nossa pátria, a majestade, a grandeza, acordo com o local, com a nossa paisagem solene e mística. Calculas tu que na cidade do granito, na cidade dos imensos monólitos do Corcovado, Pão de Açúcar, Pico do Andaraí, não há na tal avenida-montra, um edifício construído com esse material. Choveu a mais não poder, assim mesmo ela esteve cheia, de tropa e de povo.”
Lima Barreto (1905)
“Oh! o progresso! Pobre desta cidade! Pobres destas boas casas que morrem! Pobres destas boas ruas que desaparecem! Pobres das minhas alegrias que se esvaem! Esta Avenida, menino, vai ser o caminho da Perdição! O caminho do céu é estreito e feio como o Escorrega; o caminho do inferno é que é amplo, rasgado, cômodo e bonito! Pelas veredas apertadas só passam as almas puras, mas pelas avenidas largas passam todas as multidões pecadoras...”
Olavo Bilac (1904)
“Se Rodrigues Alves, Lauro Muller, Passos e Frontin voltassem à vida e a vissem hoje, por certo que não a reconheceriam mais, tão inumana que ela haveria de se tornar por obra do que se chama progresso. Pois de tudo que nela convidava o pedestre a percorrê-la, com a sombra de suas árvores no meio do seu asfalto, nada mais encontrariam senão uma desordenada via de escoamento de um tráfego alucinado, poluída pelos gases, por altíssimos e monstruosos espigões”.
Brasil Gerson (1954)
Tradicional espaço da memória carioca desde 1894, foi batizada em homenagem a Cristóvão Colombo por seus fundadores, os portugueses Joaquim Borges de Meireles e Manuel José Lebrão. Naquela época, as confeitarias funcionavam como os botecos de hoje, onde todo mundo se encontrava, sendo frequentada por artistas, intelectuais, políticos e boêmios que fizeram parte da história do Rio. O salão de chá no segundo andar, em estilo Luís XVI, foi inaugurado em 1922. A abertura oval entre os dois andares, a claraboia com vitral e a grande área de espelhos belgas nas paredes laterais conferem ao espaço interno um ambiente requintado e agradável. Hoje é parte do patrimônio cultural e artístico da cidade e possui filiais no Aeroporto Internacional do Galeão, no Forte de Copacabana e no CCBB-RJ.
Rua Gonçalves Dias, 32
Seg. a sex., das 9:00 às 19:00; sábados e feriados, das 9:00 às 17:00
Foi aberto em 1926, no auge da popularidade dos cinemas da Cinelândia. É o último cinema remanescente do circuito de salas que ajudou a batizar a região (aí incluídos o Império, o Pathé, o Rex, o Vitória, o Metro e o Palácio). Passou por uma reforma em 2015, sendo rebatizado de Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro –Cine Odeon, e sedia eventos como o Festival do Rio, o Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro e o Anima Mundi.
Praça Floriano, 7
Consulte a programação: https://www.cineodeon.com.br/
Ponto de início da Avenida Rio Branco e também da Região Portuária. A partir de 1910, com a inauguração do Porto do Rio, foi um importante ponto de recepção dos navios que traziam mercadorias e turistas à cidade. No entorno da praça, ficam construções relevantes como o Museu de Arte do Rio (MAR) e o Museu do Amanhã, além do edifício A Noite, primeiro arranha-céu da cidade. Em seu centro está a estátua do Barão de Mauá, Irineu Evangelista de Souza, empresário do tempo do Império. Aos finais de semana, o Píer Mauá, que ainda hoje recebe cruzeiros marítimos, também abriga feiras, shows e eventos gastronômicos e culturais nos armazéns restaurados do antigo porto.
Consulte a programação: http://www.piermaua.rio/