O roteiro pelas Sete Artes acontece ao redor da escola que inaugurou o ensino artístico no Brasil, há 200 anos. O Museu Nacional de Belas Artes foi criado oficialmente em 1937 por Getúlio Vargas e conjugou a ocupação do prédio com a Escola Nacional de Belas Artes até 1976, quando a ENBA foi deslocada para o Fundão. Mas sua história tem início com a Missão Artística Francesa de 1816. A partir dela, foi criada a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, cujo nome passaria a ser Academia Imperial de Belas Artes e que formou a primeira geração de arte brasileira.
A formação artística no Brasil se organizou e desenvolveu marcada pelo eurocentrismo. O primeiro edifício da escola foi construído para abrigar uma pinacoteca com as obras trazidas da Europa por Joaquim Lebreton, chefe da Missão Francesa, a convite de D. João VI. Essa introdução e afirmação da identidade europeia se fez presente na instituição ao longo do tempo. Muitos dos pintores brasileiros foram mantidos por bolsas e apoio de poderes políticos brasileiros, como o próprio Pedro Américo, amplamente representado nas galerias da arte do Século XIX do MNBA.
Proclamada a República, em 1889, a Academia Imperial transformou-se em Escola Nacional de Belas Artes, cuja nova sede é construída na virada do século XX - momento histórico em que o espaço urbano carioca passa por profundas modificações, com a demolição do passado colonial. O edifício de arquitetura eclética de 1908, projetado pelo arquiteto Adolfo Morales de los Rios, teve como inspiração a mesma concepção de “Museu Palácio” do Museu do Louvre. É um ícone do projeto de afrancesamento da então capital brasileira, ao lado dos prédios do Theatro Municipal e da Biblioteca Nacional, como veremos nesse Rolé que contempla a artes: a pintura, as artes cênicas, a literatura, a música, o cinema, a escultura e a arquitetura.
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A ideia de um teatro nacional com uma companhia artística estatal já existia desde meados do século XIX e teve no ator e empresário João Caetano (1808-1863), entusiasta do teatro brasileiro, um de seus principais apoiadores. O projeto, no entanto, só começou a ganhar consistência no final daquele século, com o empenho do dramaturgo Arthur Azevedo (1855-1908). A luta incansável de Azevedo foi travada nas páginas dos jornais e acabou por trazer resultados. Lamentavelmente, ele não viveu o suficiente para ver seu sonho concretizado, morrendo nove meses antes da data da inauguração do teatro, em 14 de julho de 1909.
Crédito da Imagem: Thiago Diniz/Rolé Carioca
O prédio histórico onde funcionou o Grande Hotel da Lapa e o Cinema Colonial (1941-1961) foi transformado numa sala de concertos, um espaço mais simplificado de exaltação da música brasileira, pelo então governador Carlos Lacerda. Até então, a música de câmara era apresentada dentro das dimensões inadequadas do Theatro Municipal, apresentações que, com frequência, eram uma das razões da sobrecarga na agenda do suntuoso teatro. A sala recebeu o nome de Cecília Meireles, poetisa brasileira que morreu meses antes de sua inauguração.
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A história do primeiro espaço público da cidade está associada a de Mestre Valentim. O escultor não trabalhou apenas como autor da planta original do Passeio – também confeccionou peças de arte instaladas no local, as primeiras de metal fundidas no Brasil. O maior destaque artístico é o Chafariz dos Jacarés, fonte abastecida no passado pelo Chafariz da Carioca por via subterrânea. Reformas ao longo do século XVIII alteraram o projeto, criando um modelo inglês de jardim paisagístico, e incluíram novas obras de arte, principalmente em ferro fundido das fundições do Val D'Osne.
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De 1944, o conjunto em estilo art déco formado por elementos arquitetônicos e decorativos originais da fachada, os materiais de acabamento, gradis e escadarias e cobertura do edifício foram tombados em 2015. O edifício foi sede do Hotel Serrador, considerado na época o maior da América Latina, que tinha como atrativo a boate Night and Day (nas décadas de 40 e 50), frequentada por políticos e artistas. Com a mudança da capital para Brasília e a decadência da Cinelândia, o hotel acabou fechando as portas em 1970. Seus 23 andares chegaram a ser ocupados pelo conglomerado empresarial de Eike Batista durante 2 anos.
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O cinema inaugurado em 1926 passou por uma ampla reforma em 2015, que incluiu a restauração da fachada e do interior respeitando o projeto arquitetônico original, além de uma revisão geral dos sistemas hidráulico e elétrico. A revitalização abrangeu também a implementação de um novo equipamento de projeção digital 4k, e a capacidade de público manteve os seus 550 lugares. Tem comunicação visual inspirada na Belle Époque dos cinemas da Cinelândia, bem como os projetos de ambientação e de iluminação interna e externa.
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O núcleo original da Biblioteca Nacional do Brasil é a antiga livraria de D. José, organizada sob a inspiração de Diogo Barbosa Machado, Abade de Santo Adrião de Sever. A coleção de livros foi iniciada para substituir a Livraria Real, que foi consumida pelo incêndio que sucedeu o terremoto de Lisboa de 1º de novembro de 1755.
Crédito da imagem: Thiago Diniz/Rolé Carioca
O acervo tem seu maior destaque no segmento produzido durante o século XIX, momento no qual teve início no país o ensino oficial da arte, pautado nos modelos franceses. Pelo conjunto abrangente, a Coleção de Pintura Brasileira do MNBA é uma das mais importantes coleções de arte oitocentista brasileira. Grande parte dos artistas mais expressivos do século XIX e início do XX como Victor Meireles, Pedro Américo, José Correia de Lima, Rodolfo Amoedo, Belmiro de Almeida, Modesto Brocos, Henrique Bernardelli, Antonio Parreiras, Almeida Júnior e Eliseu Visconti – um dos precursores do Impressionismo no Brasil - estão representados na Galeria de Arte Brasileira do Século XIX, localizada no 3º piso.
Crédito da imagem: Thiago Diniz/Rolé Carioca
A pintura histórica é a que representa fatos históricos, cenas mitológicas, literárias e da história religiosa e, principalmente, eventos da história política. Temas da nação, cenas de guerra, personagens e atos célebres são descritos em telas de grandes dimensões, realizadas, em geral, sob encomenda. O gênero adquiriu prestígio nas academias de arte a partir do século XVII. Marca também um estreitamento das relações entre arte e poder político, onde se vê uma associação mais nítida entre a instituição e uma doutrina particular. No Brasil, Pedro Américo (1843 - 1905) e Victor Meirelles (1832 - 1903) foram os principais nomes da pintura histórica do país.
Estando na Europa graças ao prêmio viagem da Academia Imperial de Belas Artes, Victor Meirelles inicia em Paris a pintura do quadro, em 1859. Nele, índios e portugueses, integrados por uma elipse, assistem harmoniosamente à missa celebrada num altar erguido em meio à paisagem tropical. O título do quadro refere-se não ao lugar específico do fato, mas, à futura nação. Seus índios, embora estampem pinturas corporais, são idealizados e não identificados a nenhuma tribo específica. A natureza, própria ao nordeste brasileiro, subordina-se ao espírito suave do quadro. O espectador moderno se colocava, não diante de uma representação, mas impregnava-se da sensação de assistir à missa real.
Ao lado de Victor Meirelles, Pedro Americo atualizou o gênero de batalhas, já decadente após a queda de Napoleão Bonaparte. No quadro relativo à Guerra do Paraguai, o pintor enfatiza a luta ensandecida em detrimento do herói. Mais que uma encomenda oficial, celebrativa da vitória, “A Batalha do Avahy” é uma crítica da própria guerra. Trata-se de tela gigante de 60 m2, onde a ação é abandonada para favorecer a percepção do caos da guerra. Múltiplos episódios paralelos se perdem, em meio à fumaça, lama e sangue. O herói, Caxias, então comandante-em-chefe das forças aliadas, está em segundo plano, observando a cena à distância.
A livraria independente está localizada desde 1956 no subsolo do edifício Marquês do Herval, coração comercial e cultural do centro do Rio. Fundada em 1952 pelos livreiros Andrei Duchiade e Vanna Piraccini, formou uma geração de intelectuais e já foi homenageada por célebres clientes, como o poeta Carlos Drummond de Andrade - que incluiu poema sobre a Da Vinci em As impurezas do branco, de 1973 - e Antônio Cícero, que dedicou à proprietária o poema A cidade e os livros, de seu livro homônimo.
End.: Av. Rio Branco, 185
Tel.: (21) 2533-2237
Site: http://www.leonardodavinci.com.br/
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O sobrado reformado na Ladeira Selarón transformou-se em espaço voltado para o trabalho de grupos teatrais e abriga companhias de teatro residentes, entre elas a Cia. dos Atores, Os dezequilibrados e a Pangeia cia.deteatro. Na sua programação, há espetáculos a preços populares e oficinas periódicas e gratuitas.
End.: Rua Manoel Carneiro, 12 - Ladeira do Selarón
Tel.: (21) 2137-1271
Site: www.facebook.com/sededascias
Crédito da imagem: site http://sededascias.blogspot.com.br/