Em 1974, o artista plástico francês Jacques Van de Beuque adquiriu um sítio no bairro do Recreio, no Pontal, que faz divisa com a Barra da Tijuca, e construiu a casa que foi a primeira sede do museu, aberta ao público em 1993. No entanto, precisou ser transferido após sucessivos alagamentos que ameaçavam a destruição do acervo. O museu foi reinaugurado no espaço atual em 2021.
Foto: Thiago Diniz
Jacques Van de Beuque foi um artista plástico que no contexto da Segunda Guerra Mundial se manifestou contra o fascismo, o que acarretou em sua prisão em um campo de trabalho forçado por cerca de dois anos. Após a liberdade e com incentivo de Cândido Portinari, chegou ao Brasil. Na década de 1950, viajou ao Recife e ficou encantado com o trabalho dos artistas populares, iniciando sua coleção. Viajou pelo país durante anos adquirindo peças que hoje integram o acervo do museu.
É a primeira exposição individual de uma artista no Museu do Pontal e traz a presença de pinturas, uma expressão rara no acervo. Maria José Lisboa da Cruz, conhecida como Roxinha, é alagoana, residente em Lagoa de Pedra, próximo a Ilha do Ferro – reduto de artistas escultores e bordadeiras –, no Município de Pão de Açúcar. Trabalhou como agricultora, em uma pedreira local e foi também gari. Passou a desenhar e pintar em suportes variados para ocupar o tempo.
Foto: Thiago Diniz
A sala expõe obras de artistas nordestinos que representam as vivências de suas comunidades: a vida rural, as profissões, os ciclos da vida etc. A partir disso, podemos refletir como essas vivências se cruzam no Rio de Janeiro desde fins do século XIX com os grandes deslocamentos das populações nordestinas para a cidade em busca de melhores condições de vida, uma diáspora para sobreviver à falta de recursos dos seus locais de origem.
Foto: Thiago Diniz
Os circos integram a paisagem da cidade e ajudam a contar a história do nosso território e de personagens que não costumam ser apresentados nas narrativas tradicionais. Através das obras de arte expostas, podemos pensar sobre as tradições circenses cariocas em espaços como a Praça Onze, considerada território oficial do circo. O local destinado à montagem de lonas recebeu o nome de Pátio Palhaço Benjamin de Oliveira, em referência a um dos primeiros palhaços negros do Brasil.
Foto: Thiago Diniz
Na exposição que destaca o trabalho de artistas e suas tradições, destacamos as Bonecas Karajá. O ofício e os modos de fazer as Bonecas Karajá foi reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil em 2012 pelo IPHAN. A maneira como são esculpidas em barro e ornadas, representam as relações culturais e com a natureza dos indígenas Karajá. Da escolha do barro à técnica, é movimentado todo um conjunto de saberes próprios.
A sala expressa a arte e a vida que se desenvolve em torno dos elementos. A partir das obras de arte que representam as relações de povos com a água, podemos pensar sobre a relevância das águas para o desenvolvimento da cidade do Rio de Janeiro, da Baía de Guanabara às lagoas, restingas e manguezais da Barra da Tijuca.
Nesta sala vemos muitas obras que fazem referência às religiões de matriz africana, as quais historicamente foram e ainda são perseguidas e atacadas pela sociedade civil e o Estado com base nos discursos de origem colonialista cristã que produziram o racismo religioso. É nesse contexto de perseguição que nasce o samba, no terreiro de Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata. O carnaval que ampliou a difusão do samba é também representado nessa exposição por ser considerado uma devoção popular.
João das Alagoas é um artista popular do município de Capela (AL), reconhecido como Patrimônio Vivo Cultural de Alagoas e um dos maiores escultores do Brasil. É mestre em modelar cenas do cotidiano através do barro e tem como marca as obras de bois-bumbás esculpidos em baixo e alto relevo contendo histórias do folclore nordestino, brincadeiras de rua, casamentos, batizados e festividades. É possível acompanhar o artista através do seu instagram @joaodasalagoas.capela.alagoas
No canal do Museu do Pontal na plataforma YouTube estão disponíveis conteúdos que contribuem para ampliar o conhecimento sobre arte e cultura popular, são vídeos de eventos que ocorreram na instituição, como o Ciclo de Debates Modernismos, Arte e Cultura Popular (2022) e o Seminário Arte Popular em discussão - Centenário Jacques Van de Beuque (2023), além de lives e documentários.
O acervo do Museu do Pontal contém muitas obras de arte que retratam os modos de vida no sertão nordestino, mas a região na qual a instituição está sediada também já foi considerada uma área sertaneja. Foi o pesquisador e escritor Magalhães Corrêa em sua obra “O Sertão Carioca” (1936) que utilizou e popularizou o termo ao documentar os territórios rurais da cidade, principalmente os da Zona Oeste, incluindo a paisagem das terras alagadiças da Barra da Tijuca.
O Museu do Pontal é o primeiro no Brasil a produzir 100% da energia que consome. Em sua construção foram instalados painéis solares, grandes janelas e portas de vidro para que ocorra ventilação natural cruzada e o aproveitamento da luz natural. Há também reutilização da água de chuva em um sistema de irrigação para os jardins que possuem dezenas de milhares de mudas de 73 espécies nativas brasileiras.
Foto: Thiago Diniz
O Centro de Referência do Artesanato Brasileiro (CRAB), localizado na Praça Tiradentes, n° 69, é mais que uma vitrine da produção e da comercialização do artesanato brasileiro. Expõe também obras de artistas populares de diversas regiões.
Localizado na Rua do Catete, n° 179, o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular é a única instituição pública federal que desenvolve e executa programas e projetos de estudo, pesquisa, documentação, difusão e fomento de expressões dos saberes e fazeres do povo brasileiro. Suas atividades produziram um acervo museológico de aproximadamente 17 mil objetos, 130 mil documentos bibliográficos e cerca de 70 mil documentos audiovisuais.
No site https://www.mbaraka.com.br/CATALOGO_POP_UP_CRAB.pdf há um catálogo da primeira exposição no formato galeria que ocorreu no CRAB, reunindo mais de 40 artesãos em um recorte representativo do artesanato contemporâneo brasileiro.