"Me encantei por Bangu aos 12 anos, quando me mudei para cá. Quando dei de cara com a Vila Operária, o bairro planejado, as ruas largas e arborizadas, casas com telhados adornados por lambrequim, pensei: “Isso aqui é um paraíso, estou em Londres”, rs. Apesar de não ter nascido aqui – nasci no Morro do Juramento, zona norte do Rio – sou banguense e militante de Bangu. Não sou religioso, sou de esquerda e digo também que minha religião é Bangu.

Além de tudo, o futebol brasileiro nasceu em Bangu. Durante 15 anos, eu, o Benevenuto Rovere (do Museu de Bangu) e o doutor em Educação Física Rogério Melo trabalhamos para que Bangu fosse considerado o berço do futebol no Brasil. Foi graças ao escocês Thomas Donohoe, um fanático pela bola que veio trabalhar na fábrica Bangu, que tivemos nossa primeira partida de futebol, bem aqui, em 1894. Como forma de homenageá-lo, concebi a estátua que está instalada no estacionamento do Bangu Shopping.

Minha maior emoção é ver o Bangu entrar em campo. Só de títulos, temos um Mundial de Clubes conquistado em 1960, os dois Cariocas do clube (1933 e 1966), sete vices do Estadual, fora os quatro títulos roubados.... O time é pioneiro em muita coisa: foi o primeiro no mundo a estampar patrocínio em camisa, o primeiro campeão profissional do Rio, o primeiro campeão do Maracanã (antes da final da Copa de 50), o primeiro a ter uma banda musical, a utilizar fogos de artifício em seus jogos e a jogar em um campo de grama sintética. Numa época em que o esporte era só praticado pela elite, o Bangu incluiu jogadores negros em campo. A história do bairro também é a do Bangu Atlético Clube.

Aprendi tudo o que sei do meu ofício em duas escolas: na TV e no Carnaval. Foi meu curso de “artes práticas”, já que não consegui cursar a faculdade de Artes Plásticas. Comecei na Globo em “Roque Santeiro”. Na Imperatriz Leopoldinense, foram mais de 20 anos e seis campeonatos ao lado da carnavalesca a carnavalesca Rosa Magalhães. E tudo que aprendi trouxe aqui para Bangu. A maior parte dos pintores, escultores, laminadores que hoje atuam na Cidade do Samba passaram pelo meu galpão. Aqui, na Clécio Regis Cenografia e Pintura de Artes, promovo aulas de pintura e cenografia.

Contribuo com o Projeto Orquestra Bela Oeste (OBOE), iniciativa que atende uma das comunidades mais violentas da zona oeste, a Vila Kennedy, é um convênio da Orquestra Sinfônica da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (OSPMERJ) com a Flizo – Festa Literária da Zona Oeste. Em breve, dentro das comemorações dos 10 anos do Bangu Shopping, teremos uma récita da Orquestra Petrobras com abertura da OBOE. E serei homenageado: uma sala de teatro do shopping se chamará Clécio Regis."

Especialista em pinturas artísticas, o cenógrafo e artista plástico Clécio Regis, 57 anos, mora em Bangu desde 1972 e produz obras para televisão, cinema, eventos de música, moda, carnaval. Criou, entre outros, os monumentos em homenagem a Roberto Marinho, Hermeto Paschoal e ao jogador do Bangu Domingos da Guia.
 

"Em 2017, completaremos 160 anos de criação do Instituto Nacional de Educação dos Surdos. O INES é um centro de referência nacional da área da surdez, ligado direto ao gabinete do Ministro da Educação. Dentro do instituto em Laranjeiras, temos um colégio de aplicação, onde atendemos da educação precoce até o ensino fundamental e médio, só para surdos. Também temos um curso superior de pedagogia bilíngue que é inclusivo, onde alunos ouvintes estudam ao lado de surdos.

A educação precisa estar sempre em evolução e, para isso, temos um departamento só de pesquisas, onde os professores dos cursos e do ensino superior colaboram. Lançamos em 2012 a TV INES, uma televisão voltada para os surdos – porque eles não assimilam as informações do mesmo jeito que um ouvinte. Para a grande maioria dos surdos profundos, a legendagem não é suficiente. Por isso, estamos lançando o “Primeira Mão”, um telejornal semanal bilíngue apresentado por intérpretes de LIBRAS – a língua brasileira de sinais – com locução e áudio-descrição, para que ouvintes e cegos também possam entender.

O prédio do INES aqui em Laranjeiras é lindo e foi erguido na época de D. Pedro II, já para ser uma escola para surdos. O Imperador teve interesse tanto na educação dos surdos quanto na dos cegos – o Instituto Benjamin Constant da Urca também foi incentivado por ele e surgiu 3 anos antes que o INES. Antes de se estabelecer em Laranjeiras, a escola esteve durante 10 anos na região do Morro do Livramento, no centro do Rio.

Durante muitos anos, o instituto foi apenas uma escola. Hoje em dia, trabalhamos para o todo Brasil, dando assessoria técnica gratuita a professores de muitos municípios. Produzimos e distribuímos materiais, livros, apostilas e vídeos, que incluem histórias infantis em LIBRAS, para bibliotecas municipais. Temos especialistas que realizam o teste da orelhinha e exames de diagnóstico da surdez em bebês, gratuitamente. Também oferecemos, todo semestre, um curso de LIBRAS aberto a comunidade que é muito procurado."

O diretor-geral do INES, Marcelo Cavalcanti, é psicólogo de formação. Aprendeu LIBRAS para poder se comunicar e não se sentir excluído das conversas com amigos surdos.
 

"O Grupo IED - Istituto Europeo di Design, que tem 11 sedes espalhadas pela Itália, Espanha e Brasil, sempre busca edifícios históricos para se instalar. É quase uma tradição do grupo: restaurar e devolver à cidade e principalmente aos cidadãos, espaços que estavam abandonados. A ideia é sempre dar nova vida a esses prédios, resignificando-os.

Encontramos o prédio bastante deteriorado, descaracterizado, com muitos problemas estruturais. Tivemos algumas questões burocráticas para resolver, pois parte da comunidade local não compreendeu muito bem nossa atuação e nossa intenção de manter e potencializar o valor simbólico e arquitetônico do local.

Toda a parte da arquitetura estrutural foi mantida, porém reforçada. Descobrimos uma parede em curva, que era a fachada do prédio na época do Hotel e do Cassino, que foi coberta pela TV Tupi. Nós a restauramos, deixamos ela aparente e colocamos até uma cor vibrante para chamar mais atenção. Ainda temos uma escada original e as antigas cabines da mureta que reformamos. Iniciaremos agora em 2016 a parte final da restauração do edifício, instalando definitivamente o Centro de Inovação em Design e Economia Criativa do IED, que vai ser um grande laboratório de prototipagem e inovação. O prédio é histórico e tombado pelo município da cidade, portanto seremos bastante cautelosos mantendo curvas em art déco, escadas de mármore etc. Anos 30 e 40.

Nós oferecemos regularmente diversos cursos nas áreas de Design de Moda, Design de Interiores, Design Gráfico, Design de Mobiliário, Design Digital, Design Estratégico e Entretenimento. Temos cursos breves e longos, com carga horária variada, de 15 horas à 400 horas. Também oferecemos programação gratuita variada e oficinas curtinhas para que todos possam colocar a mão na massa. Aqui a gente recebe visitantes o tempo todo, do mundo inteiro, que querem ver como o prédio ficou depois da reforma. Já tivemos alunos de outras cidades e estados do Brasil, e também já acolhemos muitos estudantes estrangeiros: Itália, Portugal, Botsuana, Espanha, Peru, Bolívia, Colômbia, Áustria."

O italiano Fabio Palma mudou-se para o Rio em 2010 para assumir a direção do IED Rio - Istituto Europeo di Design. Graduado em Ciências da Comunicação pela Universidade “La Sapienza” de Roma, é mestre em Comunicação Medioambiental e Científica pela Universidade Pompeu Fabra de Barcelona (Espanha). Também é ilustrador e chargista político.