A proposta do #RoléCarioca ser uma aula ao ar livre com embasamento histórico agradou em cheio o instrutor de inglês Anderson Sidney Silva e o analista financeiro Mateus. O casal estava à procura de passeios guiados pelo Rio quando conheceram o Rolé Visita pelo Jardim Botânico. Gostaram tanto que repetiram a dose na edição especial de encerramento de 2018, o roteiro pelas Sete Artes.

Como conheceram o Rolé?
(Mateus) Gosto de fazer walk tour – sempre faço quando viajo e procurei opções no Rio de Janeiro. Já fiz com outros grupos e, pelo Facebook achei o Rolé Carioca.
(Anderson) Conheci pelo meu companheiro, que já tinha vindo antes e começou com uma ideia de um programa no final de semana. Desde então estamos frequentando o Rolé Carioca.

O que achou desse Rolé? Alguma sugestão ou mudança no formato?
(Mateus) Fiz outros passeios e gostei do Rolé Carioca por ser mais didático, ter mais dados sobre os fatos históricos. Parece mais uma aula, é mais embasado historicamente falando. A única sugestão seria lugares novos. Moro em Laranjeiras e seria um bairro interessante, com muita história. Não sei se já teve, porque conheço o Rolé há pouco tempo... 
(Anderson) Vale também outros roteiros no Centro do Rio, um perto da Central do Brasil, por exemplo.

PS> Os dois voltarão para nossa lista de pedidos!
 

Atendendo a pedidos dos nossos rolezeiros que adoram ler sobre a história da cidade do Rio de Janeiro, listamos uma bibliografia essencial sobre o tema. Esta seleção foi especialmente organizada pelos pesquisadores que conduzem o #RoléCarioca, Rodrigo Rainha e William Martins, e conta com clássicos como o estudo realizado por Brasil Gerson em torno da criação das ruas e os nomes de pessoas dados a elas, “Histórias das Ruas do Rio”, e a obra de Maurício Abreu “Evolução urbana do Rio de Janeiro”, um relato da transformação do espaço urbano carioca, desde o início do século XIX.

Como parte da seleção indicamos também títulos assinados pelos professores Rodrigo Rainha e William Martins, respectivamente: o recém-lançado “O Rio de Todos os Padres”, que aborda dos clérigos que se tornaram nomes de rua na cidade, e “Paschoal Segreto”, sobre o italiano que desenvolveu um mercado de diversões no Rio, trazendo inclusive o cinema para o Brasil, no final do século XIX.

RAINHA, Rodrigo. "O Rio de Todos os Padres”. Rio de Janeiro, Autografia, 2017

MARTINS, William. “Paschoal Segreto”. Ministro das Diversões do Rio de Janeiro (1883 – 1920). Rio de Janeiro: Autografia, 2014.

ABREU, Maurício de A. “Evolução urbana do Rio de Janeiro”. 4. ed. Rio de Janeiro: Instituto Pereira Passos, 2006

BENCHIMOL, Jaime Larry. “Perreira Passos: um Haussmann tropical" A renovação urbana da cidade do Rio de Janeiro no início do século XX”. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes, Departamento Geral de Documentação e Informática, 1992.

CHALHOULB, Sidney. “Trabalho, lar e botequim” O cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro da belle époque”. São Paulo: Editora Unicamp, 1986.

COARACY, Vivaldo. “Memórias da cidade do Rio de Janeiro” Quatro Séculos de História. Rio de Janeiro. Documenta Histórica, 2009

CUNHA, Maria Clementina Pereira. “Ecos da Folia” Uma História social do Carnaval carioca entre 1880 e 1920. São Paulo: Companhia das Letras, 2001

GERSON, Brasil. “História das Ruas do Rio” e sua liderança na história política do Brasil”. Rio de Janeiro: Ed.Bem-Te-Vi, 2015. 6.ed.
 

Todos os bairros cariocas têm uma história! É o que defende o economista de formação André Vaz Barbosa, que acompanha o #RoléCarioca desde a primeira edição do passeio, em 2013. Para este rolezeiro fiel, cada roteiro do Rolé apresenta, mês a mês, uma história diferente – o que o diferencia de outros passeios organizados no Rio: “Existe um preconceito que certos lugares não têm história. Mas existem muitos locais escondidos, que a gente passa e não vê, ou não tem noção do que é. A verdade é que tem muita atração em cada bairro: como começou a ser habitado, o modo que se desenvolveu, de onde veio seu nome, como e por que foi estabelecido”.

André teve motivos a mais para participar do #Rolé por Laranjeiras: reside no bairro desde 1979, quando se mudou de Minas Gerais para o Rio para completar sua formação acadêmica na Universidade Santa Úrsula e, como sócio-torcedor do Fluminense, considera a sede do clube especial mesmo pra quem não torce pelo time. Ele conta suas impressões sobre o trajeto organizado por sua vizinhança:

Como conheceu o Rolé Carioca?
Através de uma colega minha, que soube do primeiro Rolé (o da Urca, em 2013) e me chamou para acompanhá-la. Com isso, comecei a seguir vocês e chamar outros amigos para irem também. Fiz amizades no Rolé: a Mônica, a Ivone... tanta gente que nem dá pra mencionar todos. Hoje em dia, marcamos de se encontrar sempre antes dos passeios. Eu costumo ser o primeiro a chegar, pelo menos meia hora antes do horário marcado, rs. Já nos organizamos para o próximo Rolé, por Paquetá.

Antes do Rolé, você já tinha aprendido história dessa forma?
Já tinha participado de outro passeio histórico, o Roteiros Geográficos do Rio de Janeiro com o professor João Baptista, que é um pouco diferente do Rolé: sempre faz os mesmos roteiros e acaba não tendo mais novidades. No Rolé, cada mês é um local diferente, uma história diferente.

O que achou do Rolé por Laranjeiras?
O roteiro em Laranjeiras deve ser feito no máximo em 2h30, 3h. Teve alguns locais que não foram visitados, mas vocês colocam no site os pontos, o que é cada atração e dão as dicas de locais que ficaram fora e podem ser visitados depois. Eu consigo entender que o Rolé gostaria de entrar com a gente em certos lugares, mas não tem condição porque são 200/300 pessoas. O Fluminense, por exemplo, abriria para um grupo de 10/20 pessoas, porque o salão nobre é pequeno mesmo, não caberia todo mundo lá. Sou sócio e conheço o clube desde meus 16 anos, é um lugar bacana de conhecer independente do clube para que torce. Dos clubes cariocas, os únicos que têm sede antiga são o Fluminense e o Vasco. Lá dentro, tem uma exposição com muitas fotos, que mostram inclusive a abertura da rua Pinheiro Machado e como a pedreira onde fica a Universidade Santa Úrsula foi quebrada.

Foi surpreendido por alguma história, mesmo morando há tanto tempo no bairro?
Sempre tem um pouco mais de história! Já tinha noção da origem de algumas coisas, como o nome do Largo do Machado. Me surpreendi com a história sobre a Praça que os moradores de Laranjeiras chamam ‘do avião’ (em homenagem ao aviador italiano Carlo Del Prete). O bacana é que o Rolé é aberto para moradores que conhecem mais sobre o local contarem mais detalhes dali.

Na sua opinião, faltou algo? O que você acrescentaria?
O Rolé não passou longe das Casas Casadas. É um ponto especial de Laranjeiras, que infelizmente a Prefeitura tombou para fazer um monte de coisa e não fez nada, está parado. O Instituto Nacional dos Surdos estava de portas abertas durante a semana. Acho que perderam a oportunidade de mostrar para o público do Rolé o que é o INES e o estudo de LIBRAS, o quanto é importante para a integração dos surdos na nossa sociedade.

“Em 2012, o Mercadinho São José estava meio abandonado, só tinha um bar aberto e muitos boxes vazios. Meus sócios, Bruno Magalhães e Conrado Gonçalves, abriram o Botero nessa época, e o bar acabou valorizando esse ponto de Laranjeiras, atraindo novos estabelecimentos. Um ano depois, todos os boxes já estavam ocupados e revitalizados. Já havia sido convidado e acabei entrando como sócio no negócio há 2 anos.

O Botero deu uma cara nova para o Mercadinho, algo que a gente se orgulha muito. Atualmente, só um box está vazio: temos o Bar do B e o Sarjeta, que são antigos, o Espetinho e um peruano relativamente novo, o Pisco Gastrobar.

Antigamente, o Mercadinho era frequentado por políticos e personalidades como Tom Jobim, que até escreveu uma carta em homenagem ao local. Então é legal trazer de volta um público para lá. Sem dúvida é um ponto cultural de Laranjeiras. Aos sábados, de 15 em 15 dias, rola roda de capoeira e uma feirinha de artesanato. O Botero organizava uma roda de samba com feijoada aos domingos. Porém, devido a reclamações dos moradores, alteramos a data para os sábados, com um nome sugestivo: Domingo Sim. A ideia é fazer também de 15 em 15 dias. Divulgamos a programação na nossa página no Facebook.

Em termos de culinária, temos petiscos autorais que são a marca do Botero: o Stracotto (uma carne cozida lentamente em cerveja preta até desmanchar, servida com alho assado numa cestinha de pão), a Bruschetta Carbonara (com tomate confit, ovo de codorna e farofa de paio) e os mini-burguers. Sou suspeito pra falar porque gosto de tudo, mas a gente tem desde lasanha de jiló até hambúrguer, rs. As novidades do cardápio são o Parmegiana de Porco (frito com molho de ervas e tomates) e o Chopp da Casa.

Além do Botero, indico o árabe da Galeria Condor, no Largo do Machado, que considero um dos melhores do Rio. Outras opções em Laranjeiras são os barzinhos no entorno da Praça São Salvador e, no Mercadinho, o peruano Pisco Gastrobar para quem quer uma proposta nova ou o Espetinho com cardápio mais tradicional.”

O chef Bruno Vaz, 27 anos, é sócio do Botero ao lado de Bruno Magalhães e Conrado Gonçalves. Já trabalhou nas cozinhas do Mian-Mian e Oui-Oui de Botafogo e, além do Botero, comanda o cardápio do food truck Ribz, especializado em costelas bovinas e de porco.
 

"Em 2017, completaremos 160 anos de criação do Instituto Nacional de Educação dos Surdos. O INES é um centro de referência nacional da área da surdez, ligado direto ao gabinete do Ministro da Educação. Dentro do instituto em Laranjeiras, temos um colégio de aplicação, onde atendemos da educação precoce até o ensino fundamental e médio, só para surdos. Também temos um curso superior de pedagogia bilíngue que é inclusivo, onde alunos ouvintes estudam ao lado de surdos.

A educação precisa estar sempre em evolução e, para isso, temos um departamento só de pesquisas, onde os professores dos cursos e do ensino superior colaboram. Lançamos em 2012 a TV INES, uma televisão voltada para os surdos – porque eles não assimilam as informações do mesmo jeito que um ouvinte. Para a grande maioria dos surdos profundos, a legendagem não é suficiente. Por isso, estamos lançando o “Primeira Mão”, um telejornal semanal bilíngue apresentado por intérpretes de LIBRAS – a língua brasileira de sinais – com locução e áudio-descrição, para que ouvintes e cegos também possam entender.

O prédio do INES aqui em Laranjeiras é lindo e foi erguido na época de D. Pedro II, já para ser uma escola para surdos. O Imperador teve interesse tanto na educação dos surdos quanto na dos cegos – o Instituto Benjamin Constant da Urca também foi incentivado por ele e surgiu 3 anos antes que o INES. Antes de se estabelecer em Laranjeiras, a escola esteve durante 10 anos na região do Morro do Livramento, no centro do Rio.

Durante muitos anos, o instituto foi apenas uma escola. Hoje em dia, trabalhamos para o todo Brasil, dando assessoria técnica gratuita a professores de muitos municípios. Produzimos e distribuímos materiais, livros, apostilas e vídeos, que incluem histórias infantis em LIBRAS, para bibliotecas municipais. Temos especialistas que realizam o teste da orelhinha e exames de diagnóstico da surdez em bebês, gratuitamente. Também oferecemos, todo semestre, um curso de LIBRAS aberto a comunidade que é muito procurado."

O diretor-geral do INES, Marcelo Cavalcanti, é psicólogo de formação. Aprendeu LIBRAS para poder se comunicar e não se sentir excluído das conversas com amigos surdos.