Que tal conhecer como eram os pontos que o #RoléCarioca vai visitar neste domingo, em Petrópolis? A história por trás do Palácio de Cristal, da construção da Catedral Metropolitana, o desenho da Praça da Liberdade nos tempos dos bondes e a época em que o palácio do Museu Imperial foi ocupado por instituições de ensino estão documentados em fotografias e texto no blog Petropolis Sob Lentes, da jornalista Carolina Freitas. Uma das curiosas montagens apresentadas no blog mostra o lugar onde hoje existe o Relógio das Flores ocupado, antigamente, pelas escadarias do antigo Hotel Orleans.
Por conta deste trabalho, a autora do Petrópolis sob Lentes foi premiada pela Academia Petropolitana de Letras em 2018, sendo a mais jovem jornalista a receber o prêmio Alcindo Roberto Gomes de Jornalismo. Os textos fazem parte de uma série de matérias publicadas semanalmente, aos domingos, no jornal Tribuna de Petrópolis e são uma delícia de ler! As memórias contadas pela autora não se limitam aos locais mais conhecidos do público que visita ou frequenta Petrópolis. Abarca também antigas fábricas, clubes e pontos comerciais que deram lugar a novos empreendimentos na cidade, e outros que permaneceram com o tempo e hoje são centenários, como a Casa D´Angelo. Confira todas as fotos e os textos no blog.
Em entrevista ao Rolé Carioca, Carolina explicou como funciona o processo de seleção das pautas. Ainda contou que deseja se especializar no campo de Memória Social para dar continuidade a essa tarefa de reavivar histórias sobre o passado de Petrópolis. Confira o papo completo abaixo:
- Como teve início o blog Petrópolis Sob Lentes?
As reportagens são publicadas semanalmente, aos domingos, no jornal Tribuna de Petrópolis, do qual faço parte. O projeto teve início no dia 16 de março de 2018, aniversário da cidade, por sugestão do editor da redação, Douglas Prado, e da subeditora à época, Juliana Fernandes. Ela é hoje responsável pela equipe web da Tribuna. Eles sabiam do meu interesse por pautas e assuntos de cunho histórico e, por isso, sugeriram que eu promovesse o resgate de histórias sobre o passado da cidade. A ideia era que as matérias fossem breves, mas à medida que apurava, sentia uma quase que necessidade de explorar os assuntos ao máximo, e assim o tenho feito. Todo domingo tenho uma página inteira dedicada às minhas reportagens. A equipe sempre me deu muita liberdade para o desenvolvimento do projeto. Nas primeiras semanas me dediquei às histórias de alguns pontos turísticos, mas logo depois encontrei um nicho que ainda não havia sido explorado: o do comércio. Hoje me dedico a resgatar memórias e histórias de estabelecimentos comerciais que não mais existem, mas que deixaram seu legado em Petrópolis.
- O que é pesquisado primeiro: as imagens ou o tema/local de cada história?
A ideia é levar o antes e depois para fora das páginas, o que torna as imagens imprescindíveis. Costumo garantir a pauta pela fotografia da fachada do local abordado. Contudo, agora, mais de um ano e meio depois do início do projeto, se torna cada vez mais difícil garantir que todas as matérias tenham as fotos que considero como sendo ideias. Já perdi as contas do número de vezes em que me deparei com famílias, herdeiras do estabelecimento abordado, que não tinham uma imagem sequer, nem mesmo do fundador. Eram as memórias e olhe lá! Quando isso acontece recorro ao Dami, Acervo Digital do Museu Imperial, e também ao Arquivo Histórico da Biblioteca Municipal.
- Os temas mais recentes tratam de estabelecimentos comerciais, como surgiu essa pauta?
Cheguei a mencionar que o comércio, até então, era um nicho que ainda não havia sido explorado. Digo isso porque, durante minhas pesquisas no Arquivo Histórico, o máximo que encontrava eram informações como as datas de fundação e término do empreendimento, e os nomes dos proprietários ou sócios. O comércio é feito de pessoas e, onde há pessoas, há vida, há história sendo escrita, então por que não abordá-las? Em minhas reportagens busco incluir desde os descendentes dos fundadores do estabelecimento a ex-funcionários, clientes e petropolitanos que dele se lembram. Assim cada um contribui com sua própria perspectiva e, como costumo dizer, contribui para a formação do quebra-cabeças.
- Professores do Instituto Histórico de Petrópolis constam entre suas fontes. Que outras você indica para trabalhos de pesquisa sobre a cidade?
Fora os historiadores, fontes inesgotáveis de conhecimento, gosto muito de ouvir os próprios petropolitanos. Sinto que há muito a ser aprendido com eles: desde boas recordações a frustrações que levam uma nova perspectiva ao nosso dia a dia. Desde que dei início ao projeto tenho um olhar completamente diferente de Petrópolis e das histórias que a cidade guarda. Acho que isso é o mais bacana em meu trabalho. Sinto que dialoga muito bem com o que é proposto pelo Rolé Carioca: é você passar por um processo de ressignificação e olhar com outros olhos os prédios à sua volta, os empreendimentos da sua cidade, as pessoas que nela moram, e entender que a história é escrita diariamente nas lojas, nas ruas, dentro de cada um.
- Você e sua família são moradores de Petrópolis há muito tempo? Qual a sua relação com a cidade? Conte um pouquinho da sua formação
Meus pais e eu somos petropolitanos. Como disse agora há pouco, a visão e a relação que tenho com a cidade hoje não é em nada parecida com a que tinha há cerca de um ano e meio. Costumo dizer que sou uma jornalista que nasceu na década errada. Quando as pessoas lêem meus textos, imaginam que eu tenha vivenciado as épocas a que me refiro quando, na verdade, o cenário é outro. Quando dei início a esse projeto de resgate de histórico tinha 19 anos, então eram pouquíssimos os estabelecimentos dos quais me lembrava. Aos 20 fui agraciada com o prêmio Alcindo Roberto Gomes de Jornalismo pela Academia Petropolitana de Letras (2018) - a mais jovem jornalista a recebê-lo. É muito gratificante e interessante analisar, com isso, o poder das palavras. Prova que o escrever e o aprender mudam completamente a essência de uma pessoa, nos unem, nos tocam, nos transformam e são sim capazes de nos transportar, assim como fizeram comigo. Me formo em Jornalismo agora em dezembro e já penso em me especializar no campo de Memória Social. Afinal, não vou abandonar tão cedo essa tarefa de reavivar o passado de Petrópolis.
Crédito das imagens: Museu Imperial/Ibram/Bruno Avellar