Nosso próximo Rolé Carioca nos levará até Madureira, região fundamental para a história e consolidação do samba carioca e de outras manifestações musicais de herança africana. Para ir esquentando o clima desse Rolé cheio de suingue, selecionamos obras literárias que documentam as origens das escolas-de-samba tão conhecidas do bairro e também biografam peças-chave dessa história.
O bem-ilustrado “Nos quintais do samba da Grande Madureira: imagens de ontem e de hoje” (2016) traça um panorama das práticas e tradições relacionadas às origens do samba na Grande Madureira e sua presença na atualidade. Nos cinco artigos organizados por Myrian Sepúlveda dos Santos, a identidade negra é apresentada a partir dos quintais, espaços fundamentais de sociabilidade, manutenção de memória e afirmação das tradições culturais afro-brasileiras, onde festa, religião, samba e comida se misturam.
Da coleção Cadernos de Samba, "Tantas páginas belas – Histórias da Portela" (2012) tem como autor o professor e historiador Luiz Antonio Simas. Vinte e duas vezes campeã do Carnaval carioca, a azul e branco de Madureira foi por ele analisada de maneira ampla, desde a fundação aos dias atuais, destacando o papel de vanguarda que a agremiação exerce no samba.
A versão ampliada da primeira edição, de 1981, de “Serra, Serrinha, Serrano: o Império do samba” (2017) apresenta “episódios relicários” da história da escola: a começar pelo levante de sambistas do Morro da Serrinha contra o autoritarismo do presidente da escola local, o Prazer da Serrinha, que resultou na fundação do Império Serrano, em 23 de março de 1947. Como escreveu a coautora Rachel Valença, trata-se de "um livro-enredo, livro-exaltação. A Império nunca teve dono, nasceu entre os estivadores, em casas onde se dançava o jongo”.
Obra referencial sobre a trajetória da cantora mineira Clara Nunes (1942 – 1983), o livro de 2007 “Clara Nunes – Guerreira da utopia”, de Vagner Fernandes, foi relançado em 2019, em edição revista e com novo projeto gráfico. A extensa pesquisa do autor aborda passagens pouco conhecidas da cantora, como a participação em festivais da canção, as consultas no terreiro de Vovó Maria Joana, no morro da Serrinha, onde aprendeu a dançar jongo, até a comoção popular e o velório na quadra da Portela, por onde passaram 50 mil pessoas.
A biografia “Dona Ivone Lara: A Primeira-Dama do Samba” (2015), escrita por Lucas Nobile, revela pontos ignorados da infância e da adolescência da sambista e o começo de sua trajetória artística, com destaque para sua participação no Prazer da Serrinha e no Império Serrano, e suas primeiras gravações em discos coletivos.
Já a vida do portelense Natalino José do Nascimento, mais conhecido como Natal da Portela, parece até ficção, mas foi provada por documentos e fotos. O livro “Natal, o homem de um braço só” (1975), de Hiram de Araújo e Amaury Jório, relata histórias tão improváveis quanto reais. Depois que assumiu a escola de samba no lugar de Paulo da Portela, dedicou-se por quase uma vida toda à agremiação e ao bairro, e atuou como uma espécie de sub-prefeito quando esse cargo ainda não existia. Como o dia em que deteve um criminoso de alcunha China Preto, que aprontou para os lados de Oswaldo Cruz e Madureira, sem se dar conta de que ali era território sob a jurisdição do patrono da Portela.
Nos quintais do samba da Grande Madureira: imagens de ontem e de hoje
Autores: Myrian Sepúlveda dos Santos | Mauricio Barros de Castro | Maria Alice Rezende Gonçalves | Ana Paula Alves Ribeiro | Gabriel da Silva Vidal Cid, Editora Olhares, 2016 (160 pág.)
Tantas páginas belas: Histórias da Portela
Autor: Luiz Antonio Simas, Editora Verso Brasil, Coleção cadernos de samba, 2012 (116 pág.)
Serra, Serrinha, Serrano: o Império do samba
Autores: Rachel Valença e Suetônio Valença, Editora Record, 2016 (482 pág.)
Clara Nunes – Guerreira da utopia
Autor: Vagner Fernandes, Ediouro, 2019 (480 pág.)
Dona Ivone Lara: A Primeira-Dama do Samba
Autor: Lucas Nobile, Sonora Edições, Coleção Sambabook, 2015 (232 pág.)
Natal, o homem de um braço só
Autores: Hiram de Araújo e Amaury Jório, Guavira Editores, 1975 (120 pág.)